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O céu29/04/02O vento fraco, frio e insistente vem do lado do oceano. Logo, a manhã úmida esboça luz bonita e o azul se derrama aos poucos, do topo para o horizonte ao redor. Imóvel e límpida, cor-de-laranja esplêndida, a borboleta recém eclodida espalha asas úmidas na primeira luz em busca do calor que possibilitará seu primeiro vôo. Ali perto, a teia maltratada e suja é indício da velhice da grande aranha amarela e preta. As aranhas jovens refazem suas teias a toda hora, cuidam de limpá-las e remendá-las e as deixam sempre com cara de nova. Ao fundo, o galho sombreado da jabuticabeira oculta um pássaro grande, que limpa suas penas. Primeiro as arrepia. Depois, com o bico e muita habilidade, as começa a pentear. O dia esquenta e o céu azula. O ventinho vira brisa, sempre o mesmo e com ele as folhas imitam asas incertas de borboletas, de todos os tamanhos, formatos e cores que, como vespas, marimbondos e abelhas, são atraídas por flores minúsculas de uma trepadeira do mato que tomou conta de tudo. O bebedouro, velha e amassada bacia de alumínio com um fiozinho de água a correr, recebe a visita de dois jovens pardais. Ao perceberem nossa presença voam até o barranco ali perto, mas logo constatam que o cão se deita em seu canto e eu paro. Por isso, voltam, com sua plumagem brilhante, bebem devagar e molham o mais que podem as penas do peito. A luz coada pelas pouca folhas que restam torna a cena ainda mais suave. O sol nasceu às 6 horas e 27 minutos e vai sumir às 17 e 42. Um dia de 11 horas e 25 minutos! O inverno nos espera logo ali, a Terra nos vira para o lado de fora da órbita e a luz do sol só nos chega de raspão, cada vez menos. Como toda desvantagem tem suas vantagens, ficamos virados para o grande céu, cheio de estrelas, sem a luz ofuscante do sol no caminho. Confira, nas noites sem nuvens... |
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