Crônica do dia |
O gigante
22/09/12
A faixa luminosa pouco acima do horizonte cinzento quase se igualava, em luminosidade e tonalidade, à lâmpada incandescente acesa além do muro do vizinho. Mais tarde, restará apenas ela a perturbar a escuridão da noite. Súbito, aumenta a luminosidade no poente e o cinza neutro se tinge alaranjado e transforma o ocaso de um dia chuvoso em desfecho espetacular, festival de cores e luz. Um resquício de luz solar, dourada, ainda brinca com os ramos mais altos, com os cumes da vegetação. Pássaros piam sem insistência, alguns pingos esparsos caem das folhas sobre outras num murmurar incompreensível, passa um grande avião além das nuvens, impossível de se ver. É a sinfonia minimalista do último dia de inverno, aqui, último de verão, lá. Primavera e outono espreitam enquanto um horizonte feérico esbanja gradações de cores e contrastes na recepção da noite. Por um momento, a lâmpada some, mas logo o céu se apaga e se dissolve outra vez em tons cinzentos, sem estrelas, clareado por luzes da cidade e a luminária do vizinho volta a ofuscar. Ciclos de um planeta a zumbir qual mariposa ao redor de sua estrela! Quando faltarem onze minutos para 15 horas pelo horário universal, cruzaremos o ponto da órbita em que o sol cai a pino sobre o equador e pode ser visto, simultaneamente de ambos os polos - de novo, equinócio, o de setembro, a inaugurar primavera e outono como todo equinócio, ponto final de inverno e verão.
Nada podemos fazer, por mais que se deseje um eterno verão ou se anseie por infindável equilíbrio equinocial, sempre igual... Só se algum gigante mitológico desse, por descuido, um peteleco no eixo de rotação da Terra, para o deixar perpendicular ao plano da órbita. Enquanto o gigante não vem, sigamos ao equinócio de março, que levará a primavera pra lá e trará o outono pra cá. Correção: foi publicado, inicialmente, com erro na indicação da hora do equinócio ('onze para 14 horas', em vez de 15 horas). |
Sat, Sep 22, 2012 at 8:40 AM Lindo! sem assinatura Obrigado. Foi mesmo um lindo espetáculo de luz e cor - um grande pedaço do céu se revestiu por um momento de dourado. Sat, Sep 22, 2012 at 9:53 PM lindo, as usual sem assinatura Lindo o show efêmero do anoitecer. Sun, Sep 23, 2012 at 5:31 PM Clode, Obrigado eu. Como a Terra, seguimos de estação em estação, de ano em ano... Sun, Sep 23, 2012 at 5:31 PM Clode Foi uma cena espetacular como ponto final de um inverno quente e aconchegante. Muitos comentaram a exuberância da cena. Mon, Sep 24, 2012 at 11:08 PM acho encantador, mágico mesmo... o seu permanente envolvimento sem assinatura Talvez seja a velhice. Afinal, sou um ano e meio mais velho e desisti completamente de esperar uma melhora vinda da grande azáfama geral das lides humanas. Passam-se séculos e o ser humano continua violento, avaro, egoísta e ciumento como nossos ancestrais, incluindo-se aí muitos animais... Há dias nem ligo o celular. |
|home| |índice das crônicas| |mail| |efeméride anterior| |anterior|