O momento do clique
22/02/17
A fotografia, assinada por Dida Sampaio, ganhou ontem destaque na capa da edição do Estadão online. Ela será, também aqui, motivo de distinção, como um exemplo feliz do célebre "momento decisivo" de Cartier-Bresson. Obtida com uma poderosa teleobjetiva, daquelas usadas para bisbilhotar vida de passarinho pequeno, tornou possível ao fotógrafo trabalhar sem invasão ostensiva da privacidade dos retratados e, portanto, com mínima interferência na cena. A perspectiva do rosto de Alexandre de Moraes, candidato ao Supremo Tribunal, não deixa dúvida sobre a grande distância entre o modelo e o fotógrafo: seu rosto se mostra pequeno, comparado a sua cabeça; suas orelhas estão enormes e seu nariz, menor que o habitual.
Todavia, o elemento crucial foi o momento do clique, ao captar o olhar oblíquo e a eloquente piscadela ao ao senador Lobão. Nada sei das coisas da política e tramas do poder. É-me indiferente quem venha a assumir a vaga do magistrado falecido. Destaco apenas a imagem de Dida Sampaio. Diante dela se poderia perfeitamente perguntar a quantas palavras corresponderia, na velha tentativa de comparar coisas incomparáveis. Por melhor que se conseguisse descrever a expressão do rosto do candidato, vê-lo esclarece instantaneamente e com muito maior precisão aquilo que há milhões de anos vimos aprendendo a decifrar na face de outrem. Certamente, saber ler intenções em um rosto humano antecedeu muitíssimo o desenvolvimento da fala e deve ter tido grande importância na evolução do homo sapiens. Por fim, vale assinalar o leve desfoque no rosto do interlocutor do candidato, Edison Lobão, característico das teleobjetivas com suas restrições à profundidade de campo, mesmo com os diafragmas mais fechados. Apesar de quase não se ver a face e do desfoque, é possível perceber reflexos vindos do âmago do senador. |
Wed, 22 Feb 2017 12:30:39 -0300 Parabéns pela crônica, pela aula de fotografia e percepção (orelhas grandes, nariz pequeno? não percebi nada disso nem cabeça grande e rosto pequeno) e pela sua isenção, ausência de politiquice na crônica. Também achei genial essa foto, quando a vi na capa do Estadão. Dida é homem? sem assinatura Não sei, reproduzi o crédito dado pelo jornal. Na minha infância, havia um jogador de futebol chamado Dida, mas não sei se era nome ou apelido. Alguns pais dão nomes da jogadores que admiram. O IBGE informa existirem 227 Didas no Brasil, mas cala sobre gênero. Wed, 22 Feb 2017 19:40:01 -0300 Muito bom sem assinatura Nenhuma vantagem, é um assunto por demais familiar... |
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