Crônica do dia
Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

O show

07/06/06

A sol venceu em parte o nevoeiro e banhou tudo de luz suave contra um céu de tímido azul, mas por razões que nunca alcancei, os pássaros fizeram desta manhã um show sem câmeras nem promoções.

Havia pombos deitados sobre os galhos mortos de um ipê e outros que pastavam entre folhas secas caídas no beiral do telhado, cujos bicos faziam um ruído delicado nas telhas. Passou um bando de andorinhas em formação de esquadrilha e pousou por um momento em uma árvore de poucas folhas, depois, se foi. Pequenos pássaros piavam muito e conversavam com voz muito aguda em arbustos, em outro canto.

O espetáculo principal, todavia, ficou para dois bem-te-vis, grandes, vistosos, de cores intensas e penas brilhantes, aves esplêndidas.

Chegou o primeiro e pousou em um galho e, em seguida, o outro, que pousou próximo, mas em outro galho da mesma árvore. Estava a uns dois metros dos restos de um tronco de palmeira, ruína vegetal que se desmancha lentamente e já abrigou ninhos de pica-paus e corujas. Hoje, transformou-se, na parte superior, em um tubo rachado pela metade.

De tempos em tempos, cada uma das aves voava até o tronco e ficava, por um momento, parado no ar, com grande esforço é verdade, olhando com vivo interesse algo ali dentro mas, por alguma razão, não ousavam nem mesmo pousar na borda do tubo em que se transformou o tronco. Então, voltavam para o mesmo galho ou outro. Era a vez do outro pássaro, a manobra se repetiu muitas vezes, sem que os bem-te-vis desvendassem o que havia de tão interessante na velha ruína.

Foi-se um e logo depois o outro, em vôo rasante rente ao telhado. Alguns minutos depois estavam de volta, ao chegar se anunciavam com os gritos típicos dos bem-te-vis e assumiram seus postos de observação e toda manobra se repetiu.

O dia seguiu, a passarada desapareceu e o mistério do tronco em ruína continua.

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