Ocasos tardios
10/01/12
Inaugure-se aqui dois mil e doze. São apenas dez dias de janeiro, quase um terço do mês e menos de três porcento do ano. O tempo é de calor e umidade, caldo de cultura capaz de criar matas e matos, florestas tropicais ou atlânticas, além de muito mofo, musgos, limos e cogumelos. Por enquanto, nessas paragens ao sul um pouco do trópico da cabra, a chuva e o calor ainda são moderados, com amanheceres quase frios e chuvas incapazes de grandes lamaçais ou atoleiros. Resta a saudade da estrela, o anseio intuitivo pelo calor e brilho do sol. Hoje, um chuvisco intermitente enverniza a folhagem e escurece os troncos. Com sua variação, o teto branco ora clareia, ora escurece e se cala a bicharada, fazendo o fundo de grilos e seus aparentados sobressair. Ontem, passava bem de vinte horas quando a noite se avizinhou, junto com uma cantoria de cigarras e ainda se podia ler com o que restava da luz do dia. O céu se coloriu em tonalidades suaves e esbatidas de pálido azul e rosas e alaranjados quase dourados, entremeadas de nuvens esbranquiçadas ou acinzentadas, a correr de sudeste para noroeste com sopro a mexer copas e ramos mansamente. Vivemos os dias em que o sol se põe mais tarde ao sul do equador. Uma leitora atenta salientou, outro dia, esse descompasso entre o solstício, com seu dia mais longo (ou mais curto) e a hora e do pôr-do-sol (ou da aurora). Até o fim da próxima semana o pôr-do-sol será às 19 horas - vinte, pelo horário de verão - deste lado do fim do mundo, com diferenças menores que um minuto. Se estas nuvens que hoje choram aqui tirassem férias no sul, desfrutaríamos desses ocasos tardios e da lua cheia. Além do mais, aplacariam a sede dos campos gaúchos. Que 2012 nos seja ditoso como os tempos de infância do poeta! |
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