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Odores Urbanos28/04/01 |
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"aspas" "Acho o rico mal-educado, cafajeste, deselegante e, além disso, as mulheres ricas são feias. O rico brasileiro não dá filme." Cacá Diegues em entrevista à revista Bundas, ano 1 número 52, pág. 47 |
Ontem fui demitido. Como há muito minha mãe morreu, é impossível plagiar Camus. Foram dois meses de trabalho temporário, um quarto do que se previa. Ao receber a noticia senti alívio e tudo pareceu sorrir. Só depois caíram fichas - abre parênteses: expressão usada, também ontem, por um senador, nos palcos do Senado. Curiosa a vida das gírias e locuções populares: foi na boca de um vendedor de drogas, e não falo de um balconista de farmácia, é óbvio, que a ouvi pela primeira vez - caíram fichas, eu dizia, fichas que ecoaram como o dinheirim que deixará de cair... Dois meses de Sampa e carro quase desmanchando. Dois meses num bairro metido, que respira e transpira grana em cada detalhe. A poucos passos da futura Ipiranga com São João, onde o nomes de dois políticos substituem o do riacho e do santo: Faria Lima com Juscelino Kubitchek. Ali, moradores de casas muito simples, em ruelas, vilas, quebradas escondidas, e fins de mundo esquecidos, estão sendo expulsos por máquinas gigantescas capazes de transformar, em pouco tempo, tudo num imenso canteiro de pó e barulho e fumaça e operários formigas sob torres de guindastes, que movimentam estruturas de ferro bem maiores do que as casas destruídas e tratores com braços gigantescos, quase humanos, capazes de escavar em minutos imensas valas... Por todo lado há construções frenéticas. Porém, o que mais espantou foi o cheiro. A parte de São Paulo por onde andei está com cheiro de gás de motor de explosão. Sempre, às vezes muito forte. No Recife, na década de 80, alguns bairros tinham cheiro forte de lixo. O povo jogava mesmo o lixo em qualquer parte e o calor forte fazia o resto. Do Rio, pode-se dizer o mesmo, em relação ao início dos anos 90. São Paulo começa o milênio com o cheiro nauseabundo de cano de descarga de caminhão. |
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