Olhares08/02/00 |
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"aspas" "No Brasil, o que falta são leitores. Escritores há a dar com o pau. Poetas, então, que castigo! Há cá poeta e meio por quilômetro quadrado." |
O olhar diabólico da diabinha cumpriu a sina de arma de mulher e, sem estardalhaço, fez o que nem parecia querer: cutucou certeiro o ponto vulnerável das entranhas masculinas de Policarpo Assunção. Se o leitor ainda se lembra, o herói tomara uma fila errada ou, pelo menos, precursora da que supunha, afoito pelo suposto diálogo com o juiz supremo ou, algum juiz, qualquer que fosse. De fato, Policarpo não pensava ou entendia nada. Nem sabia ao certo se estava vivo ou morto. Quando descobriu o engano das filas, descobriu também os olhos atentos da aprendiz de demônio. Agora, num segundo exame, Policarpo Assunção confirmava sua primeira impressão: a ajudante de Satanás, lá na Terra, ia estourar a boca do balão - e se riu da gíria antiga e esquecida. Nisso, estava estabelecido o diálogo mudo e intenso que uma mulher e um homem travam como rito de preparação, como preliminares de aproximação. O perus e pavões abrem a roda da cauda. Outras aves incham papos ou dançam complicados passos. No ser humano, tão visual e tão dependente da comunicação verbal, é na troca de mensagens com olhares e posturas e caras e trejeitos que principia a eleição do patrimônio genético complementar. Pelo menos, sua aprovação. Policarpo conferiu se estava vestido e se suas vestes tinham botões para poder pensar lá com eles: esse negócio de julgamento pode esperar. Enquanto não dá para entender, deixa eu aproveitar, porque se a moça pode fazer isso comigo é porque eu posso fazer aquilo com ela. Dito isso, na linguagem muda da tagarelice mental, o herói deu dois passos para atacar, pois o ataque da moça já parecia vitorioso. Nesse instante, uma grande ave de rapina surgiu em vôo rápido e rasteiro e pousou desajeitadamente a poucos passos do herói. Policarpo parou - seria uma aviso? Que diabo de passarinho gigante era aquele? - e logo se riu do que diabo: Meu deus! parece quiabo! e se enroscou nas palavras enquanto a poderosa ave acabava de dobrar suas asas e alizar suas penas. Ao fundo, uma risada infernal. [continua] |
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