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On-Off02/02/05"Maravilha sem par/A televisão/Só falta não falar." É de Millôr Fernandes o Hai-Kai. O Cardeal Arns declarou, quiçá na própria televisão, que só via tevê sem som e foi didático: "experimentem, tirem o som, quase tudo se torna suportável em silêncio". Aqui mesmo, repeti que só consigo, eu também, passear pelos canais sem som. O assunto veio à tona por mãos de gentil leitora, por sua perspicácia de espectadora, quando se falou, aqui, sobre vozes: "Será que então você compartilha do meu horror às apresentadoras. Aliás, a todos, homens e mulheres." Ora, há algum tempo me vejo perplexo com o destino dos jornais de tevê. Desde de o início, como se assinalou ao falar de locutores, a televisão complicou as coisas, ao exigir voz e estampa juntos. Querer, ainda por cima, um jornalista seria demais - e, notem, sem frescuras de politicamente correto, aquele um pode ser uma, tanto faz - por isso inventaram o âncora, pois a nave ameaçava descambar e, seria preciso ser-se Fellini para deixá-la ir. Prevaleceu o visual. Sobre a voz. Sobre o resto, então, nem se fala, pois nesse resto parecia haver aspectos absolutamente irrelevantes, como a capacidade intelectual, digamos. Em certos canais as pernas foram notoriamente privilegiadas em relação a tudo mais, inclusive, é óbvio, à notícia. (Para meu paladar, chegou a haver uma mulher bonita diante dos teleprompters. Não está mais no ar.) A notícia... bem, a notícia foi transferida do departamento de jornalismo para o de telenovelas. Os repórteres começaram a substituir inteligência por insolência e sensibilidade por arrogância. Os patrões conseguiram pagar bem menos ao dar ao nome do repórter destaque maior que ao noticiário. A atenção foi desviada dos fatos para as reações emocionais do povo. Sem escrúpulo algum, seguem escravos do termômetro de audiência. É só desligar. |
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