desenho de Mima

Outonal

11/04/11

Alongam-se as noites e o amanhecer tarda cada dia mais. A Terra em sua rota de pião expõe estas bandas um pouco mais ao espaço exterior, imenso, 'vazio' cheio de estrelas, galáxias e raios cósmicos. O sol nos chega mais oblíquo e seu curso no céu é mais baixo, descamba cada vez mais para o norte.

Nesta manhã fria, pela primeira vez, a luminosidade insinua - por enquanto apenas insinua - a beleza ímpar da luz outonal. Rasante, branda com sombras cheias de detalhes. Falta-lhe, ainda, a tonalidade quente, dourada, típica da estação - reluz branquíssima nos brilhos especulares, nas refrações diamantinas nas gotas que persistem. Pureza como testemunho de uma atmosfera lavada de muitas águas e muito bem enxaguada.

Pios e pequenos gorjeios pontuam a manhã por aqui. Em trinta anos, pouco mais, povoou-se um lugar vazio, de horizontes ilimitados. O longe sumiu e gente faz muito barulho. São motores de todo tipo, latidos de muitos cães, helicópteros amedrontadores e, fenômeno misterioso, em alguns dias, as turbinas dos aviões parecem sempre apontar para cá - não passam de um lado para o outro, mas continuam num diminuendo até sumir num muito longe auditivo. Agora, ao fundo, vozes e marteladas se sobrepõe somos mesmo barulhentos demais.

Nuvens chegam com vagar, passam de oeste para leste e atenuam a luz bonita da estação. Uma brisa suave confirma o inverno a se avizinhar. Outro avião seguiu par ao longe auditivo - demora muitíssimo para se apagar o rugir de suas turbinas. Por que nem sempre ressoam assim?

Mais alto o sol, mais congestionado de nuvens o céu e a luz bonita se faz uma luz banal. A manhã fria apenas insinuou a luz ímpar outonal. Ela virá, certamente, com os dias de maio, neste resto de abril. Uma cigarra ensaia um canto por um ou dois segundos apenas. Cala, como me calo eu.

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