Outro quinze
20/10/14
Não li "O Quinze". Aprendi tratar-se do primeiro romance de Rachel de Queiroz, obra de quando tinha apenas vinte anos, lançada em 1930, sobre a grande seca no interior do Nordeste no ano do título, 1915. É histórico o flagelo da seca no sertão nordestino e vivi com uma avó sempre pronta para orar pelos "flagelados do Nordeste", locução assídua no rádio e na missa. Mas a seca era longe do "sul maravilha" e, aqui, se ajudava do jeito que dava, uma esmola, um afago, duas palavras de ânimo e o ano se ia, a seca amainava, mas vinha outro e ela logo voltava enquanto Gonzaga filosofava. Só agora percebi a eventual coincidência, pois quatorze já finda e as chuvas tardam ainda, agora nas maravilhas do sul. O primeiro quinze do novo milênio já se anuncia enquanto por aqui os rios secam, as represas se desnudam de toda água e o preço dela sobe a competir, já, com a gasolina nas vasilhas mais sofisticadas. Seria irônico se o próximo quinze, em relação ao de Rachel, exportasse a seca da caatinga para a antiga Mata Atlântica, paulatinamente dizimada por nossa avidez, ganância, cobiça e irresponsabilidade. Na noite de hoje chuviscou. Uma chuvinha rala, incapaz de deixar poças ou, muito menos, encher cisternas. O primeiro mormaço da manhã logo apagou do chão os vestígios de umidade. No céu nublado o sol não demorou a encontrar brechas para desenhar sombras nítidas e aumentar a sensação de abafamento. Em pouco, voltávamos às atividades corriqueiras com a velada esperança de aguaceiros por vir. Inaptos ao presente, ao que é, confiamos no porvir. Como disse, não li este romance de Rachel de Queiroz, apenas notei, hoje, a coincidência dos anos - com um século a os separar - e comecei a imaginar um 2015 sem as inundações de dezembro e janeiro, sem os torós costumeiros nas cabeceiras de rios... |
Mon, 20 Oct 2014 17:34:07 -0200 Oi, amigo Não pretendi um tom catastrofista, se assim pareceu, desconsidere. Outro dia uma amiga, descuidadamente, cogitou do fim do mundo como consequência de nossa existência. Lembrei-lhe que nosso 'poder' ameaça só a nós mesmos e, eventualmente, uma ou outra espécie e, mesmo com a exterminação de todas, o planeta encontraria a vida a rebrotar mais uma vez. Mon, 20 Oct 2014 21:34:43 -0200 Então você foi buscar o pai de todos, a luz da Nordeste... meu Deus real... Mas para ver "de perto o galo campina, que quando canta muda de cor" ... "o cristão tem que andá a pé", pelo menos foi o que aprendi. Tue, 21 Oct 2014 15:10:27 -0200 Muito bom Clode!!! Gostei muito aqui em Bagé. Fico alegremente surpreso! Que bom que você gostou. Mon, 27 Oct 2014 14:49:20 -0200 Genial! nunca soube que O QUINZE era sobre a seca do Nordeste de 1915. Deve marcar muito. Se não me engano ela tinha três anos naque ano. |
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