Outubro

15/10/15

Os outubros da década de cinquenta traziam o clima especial da iminência das grandes férias, então com três meses mesmo, ou quase, e dois dias especialíssimos: o dia das crianças, e eu era uma delas e o Dia do Mestre, depois mudado para Dia dos Professores, e meu pai era um deles.

Hoje, sob o slogan de "pátria educadora", foram os mestres postos em patamar indigno e não são mais respeitados por ninguém, enquanto continuo a me perguntar se a deterioração da sociedade é fato ou impressão. Não apenas no Dia do Mestre, mas em todos os dias, meu pai era tratado como "o professor" e me parecia, então, existir uma mistura de respeito e admiração neste tratamento. As empregadas diziam "o professor já vai chegar" ou o caixeiro do armazém se referia ao endereço mencionando "a casa do professor" etc.

Ele não completou o ensino básico - como todos, detestava a escola e se negou a frequentá-la - mas, adolescente, teve acesso a vasta "biblioteca" na loja de um tio (no interior do Maranhão, na alvorada do século vinte, as lojas vendiam comidas e livros, roupas e ferramentas, tudo misturado) e logo se desenvolveu sua paixão pelos livros, para o acompanhar até a morte. Muitos dos livros que trouxe de lá eram impressos na Europa e com belas encadernações.

A todas as mães, primeiras mestras, e todo aquele que vela pela formação dos pequenos, tintim por este dia especial e que, independente de nomenclatura - mestre, professor, pedagogo ou profissional do ensino - saiba, cada um, aprender do ensinar, pois os pequenos, desde o primeiro choro têm muito a ensinar.

Tarefa bela, difícil e desafiadora. Desafia nossa compreensão e auto-compreensão. Os pequenos estão aprendendo o tempo todo, de tudo, intensamente. Atentos, talvez seja possível evitar a contaminação dos pequenos com nossa deterioração.

Thu, 15 Oct 2015 15:41:15 -0300

Clode,
Como meu professor, te envio os parabéns, me lembro de frases suas até hoje ! rs rs rs
Linda a historia do teu pai, eu não conhecia, abraços

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Obrigado.
Sim, também gosto da história. Quem sabe uma hora dessas conto com mais detalhes...


Thu, 15 Oct 2015 16:32:30 -0300

Parabéns Professor Clode.
Sei que seus alunos gostavam e respeitavam muito o mestre "Cobra"como era seu apelido.
bj

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Obrigado,
Mas é difícil aceitar-me professor sendo filho de um de verdade...
O apelido veio da FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo...
Em vez de diploma consegui apenas um apelido.


Thu, 15 Oct 2015 16:59:35 -0300

Seria a caduquice o fim da capacidade de apreender?

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Boa pergunta, mas não sei responder.
Poderia ser, também, atrofia do cérebro por falta de uso...
Ou corrosão por excesso e abuso...
Não sei.


Thu, 15 Oct 2015 14:31:08 -0700 (PDT)

nossa Clode, q coisa mais linda
nao sabia q o papai detestava escola, nao sabia da historia da loja do tio, dos livros, nada!
a gente precisa conversar ... vc deve saber muito mais coisas do papai q eu, segunda geracao, nao sei

bjs

Sim, não concluiu o primário.
Hora dessas conto mais falando...
Talvez... talvez não seja só uma questão de gerações...


Fri, 16 Oct 2015 05:44:32 -0300

Óbvio ululante, é fato, a deterioração.
É assustador.
Eu era absolutamente encantada por algumas professoras.
Algumas, eram de uma beleza estonteante ... entre elas uma freira.
Porém, gostava mesmo eram das aulas.... geografia, desenho e canto, história,
português ....

Interior do Maranhão, uma "venda" ...( assim que eu aprendi a denominar o espaço que
vendia fiado) que entre outros produtos vendia também livros?
Que cidade é essa Clode!!
Na minha busca fotográfica sobre livros, jamais encontrei tal evento.
Encontrei sim !!! Em Diamantina-MG. Proporcionavam de tudo um pouco e o menor
pouco eram livros. O único lugar da cidade no qual encontrei livros à venda.

Eu tive o privilégio de ter um pai charadista. Dicionários os mais inacreditáveis encontrava eu, na sua biblioteca. O mais extraordinário, era um gavetão comprido, com

ilhares de fichas de cartolina tamanho 3x4 ou maiores talvez, que ele mesmo fazia.
Era o dicionário próprio. Eu me encantava com aquela visão.

Ciao. Bom dia.
Gosto muito de suas crônicas.
Ameris.

Balsas, no interior do Maranhão. Acessível, então, apenas por via fluvial.
Encontrei uma venda dessas em São Paulo, em uma cidadezinha minúscula, de quatro ruas, próxima de Brotas, onde seria o centro geográfico do Estado e para onde se mudaria a capital, segundo antigo projeto. Fui como repórter fotográfico e vi o armazém, até grande, com tudo e mais a única televisão do local, diante de bancos de madeira de a população assistia a novela da oito da época...


Wed, 21 Oct 2015 18:42:41 -0200

Ah.... o mundo mudou e continua mudando sem parar...

E os professores também

E os ditos alunos... também...

E o ensino em geral.... xiiii!
Virou outra coisa.
E vai continuar mudando...

É, parece que só o que não muda é o ser humano...

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