desenho de Lu Guidorzi
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berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

Paisagens

04/04/02

Beirada afora deste lado do fim do mundo se vê de tudo: beleza e horror; perfumes e muito fedor - lixo, carniça, madressilvas; grana zombeteira e pobreza traiçoeira; crianças e cachorros, multidões de crianças e cachorros nas ruas. Árvores antigas - dois eucaliptos colossais são referência do campinho de bola onde, de tempos em tempos, surge um farrapo de circo ou de parque de diversão.

A avenida serpenteia nas cristas dos morros e dá vista esplêndida, à direita e à esquerda. Há horizonte, amplo e distante. Céu generoso e tráfego de ventos sem muito obstáculo. Do espigão, ruas e ruelas descem ou despencam rumo a pequenos vales apinhados de casas e barracos de paredes nuas, tijolos e blocos de cimento à mostra, na certa à espera de ocasião para "tocar a obra".

É comum ver comércio nas casas, mesmo por trás de grades: balas, doces, sorvetes, salgadinhos, refrescos e outros apelos ao paladar. Fora botecos, com cinco ou seis garrafas e uma minúscula mesa de sinuca e os infalíveis salões de beleza. Por fim, outro tipo de estabelecimento, com letreiro na fachada e demais chamarizes disputa popularidade com a venda de picolé: igrejas de fundo quintal.

Adiante, três templos expõem suas mercadorias à freguesia como lojas e camelôs na 25 de março. Poucos tem sede adrede feita para seu fim. A maioria se espreme onde mal caberia um botequim. Uma, famosa na tevê, usa e abusa da agressão sonora e se faz notar de longe, de muito longe.

Contudo, no aspecto visual, a marca registrada dessa paisagem é o grafite, na obra de artistas desconhecidos que se espalha por quase todas as portas de aço e fachadas de lojas. Talvez, para evitar a ação de pichadores, já que as outras paredes, de casas, de lojas, da grande caixa-d'água estão todas pichadas. Grafiteiro e pichador... mas é assunto para outro dia.

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