Paixão
14/04/17
Irene escorregou os dedos pelo teclado a criar escalas imperfeitas e aleatórias. Primeiro, escalas ascendentes e, após uma pausa, descendentes. Condoeu-se, então, pela solidão das notas pretas, muitas bemóis e sustenidos e, com os nós dos dedos, tentou tocar escalas usando apenas aquelas notas, mas só obteve pequenos arpejos devido ao hiato entre o mi e o fá e entre o si e o dó. Do outro lado Primo principiou ligadíssima sequência melódica em flauta doce silenciando o pianoforte da introdução e a melodia ia aos extremos alcançados pelo pequeno instrumento em arabescos cromáticos dignos de um pôr do Sol espetacular a tingir céus e nuvens com toda a gama de azuis, rosados, dourados, lilases e demais cores da paleta musical. Então o ocaso virtual se tornou aurora quando irrompeu mansamente uma voz límpida de soprano, voz humana, instrumento insuperável! A melodia cresceu e se espraiou majestosamente a encher bosques e praias e a calar a Natureza como num desenho animado por inebriar a todos com aqueles sons agradavelmente entrelaçados. Veja, gentil leitora ou leitor varonil, como um vago e nebuloso começo sem pé nem cabeça acabou por nos trazer a esta louvação da mais enigmática manifestação do espírito humano, a Música. Pesquisas demonstram o poder desta Arte nos tocar nas mais recônditas parte do mistério imenso que é nosso cérebro e cada um de nós conhece a poderosa força exercida por ao menos uma melodia em nosso âmago. Não sou musical. Desafino sempre sem o perceber. Mas gosto de ouvir música e percebo o quanto a música opera em minha emoção. Conheço pouco deste vasto universo e quase nada fora do território batido da Música Clássica. Hoje, sexta-feira da Paixão, ocorre-me aproveitar para ouvir mais uma vez a Paixão Segundo São Mateus, de Bach, com legendas em português, aqui. |
Sat, 22 Apr 2017 11:01:05 -0700 (PDT) mas essa foto eh charmosa D+ sem assinatura Devem ser os óculos, emprestados pelo fotógrafo... |
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