Aquarela do autor

de esporadicidade imprevisível

Condições locais

13/04/17

Dia chuvoso, escuro, sem ventos perceptíveis e com uma perene garoa, muito fina, mas a deixar o chão molhado. Para quem voltou faz pouco da "terra da garoa" - aliás, epíteto já obsoleto, então, pela raridade do fenômeno - surpreende ver a garoa insistente dia afora. A umidade acentua a sensação de frescor trazida pela queda real da temperatura.

O dia molhado traz lembranças avulsas à memória, dos falados "bolinhos de chuva" (nunca os experimentei com o paladar, apenas por eloquentes descrições) aos banhos de chuva - com chuvaradas e não garoas - sempre a remeterem à célebre cena cinematográfica de Gene Kelly cantando no banho de chuva.

Do lado de lá do fim do mundo a chuva estava sempre associada ao perfume da terra, da terra fértil e escura resultante do exagero de folhas mortas a cada outono. Escura e superpovoada de minhocas e outros bichos. Lá, também se destacavam as teias das aranhas bordadas de gotas reluzentes. Cada uma uma obra de arte e, por fim, uma umidade absurda com o galinho lisboeta permanentemente em seu rosa mais profundo.

Hoje a luminosidade oscila: momentos mais sombrios se intercalam com quase um mormaço, mas a garoa persiste, talvez com alguma oscilação também. E provoca questionamentos de como ela se misturaria à maresia em dia de vento pouco, quase nenhum. Os seres humanos funcionam como sempre, o guarda apita, o trânsito trava, o feirante apregoa e, a lembrar cena do Pequeno Príncipe, uns vão, outros voltam, sempre.

Pausa na garoa neste último clarear. Muitas aves, marinhas e de rapina, voam em círculos no dia de ar parado ou vento pouco. O trânsito deve estar complicado, o guarda apita mais forte e com maior insistência. Os motores roncam em seu ruído de fundo a propiciar conforto para andar, morar e trabalhar. O bicho-homem não depende mais da Pedra como um dia dependeu...

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