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Palpite!09/06/03 |
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"PALPITE INFELIZ"
"Quem é você que não sabe o que diz? Noel Rosa |
As sandálias do rei se tornaram símbolo da pertinência, ou não, de palpites e da hierarquia de palpiteiros. A história todos conhecem e eu dela não lembro minúcias, como nomes do reino e do soberano ou o motivo para o rei sair diante do povo apenas com uma ancestral das Havaianas. Logo vem a moral da história: ocorre que um artesão competente, sapateiro, assinala ao rei melhorias que, feitas em suas sandálias, propiciariam mais conforto aos pés. O rei agradece, encantado com a perspicácia do súdito e isso muito o envaidece e o estimula a arriscar mais palpites - sobre as calças, as mangas bufantes de seda, bordadas com fios de ouro, as jóias... É quando o rei o interrompe: "sapateiro, atenha-te às sandálias!" Ora, a história é muito velha. Nesses tempos modernos, sem Carlitos ou reis descalços, ninguém irá, de dedo em riste, palpitar no palpite alheio. Viva a palpitação geral! Que se palpite sem jamais provocar palpitações! No fim-de-semana, por exemplo, professor de folclore da USP palpitava, em entrevista a rádio paulistana, que verão e inverno são em épocas diferentes nos dois hemisférios pela diferença de distância de cada um, ao Sol! Ninguém lhe disse para se ater ao folclore e ao tema da entrevista, as festas juninas. Palpite, caríssima Sabrina, é só palpitar. Dê lá seu palpite, ainda que seja vaca na cabeça. No Senado, um senador palpiteiro palpitou que o presidente torneiro não deveria palpitar tanto, ele acha que o Lulalá anda palpitando demais! Ah, Noel, diga ao povo que há todo tipo de palpite, até palpite infeliz! Se ao sapateiro cabe o palpite do calçado, à majestade, senhor de todas as coisas, senhor dos exércitos, marinhas e aeronáuticas, odaliscas, concubinas e sabinas, a ele, não se aponta fronteira no palpitar. Pode esbanjar palpites à mancheias, que palpites é fácil derramar e dinheiro, não. |
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