Crônica do dia

Se não me trai a memória de velho, o Dedo de Deus fica logo ali, em Terezópolis, portanto é mais provável que tenha sido mesmo o dedo de Zeus que acionou o interruptor para deixar Nova York, Boston, Toronto, Filadélfia etc. a ver estrelas e o planeta Marte, glorioso e enorme no meio do céu, com brilho a competir com o de Vênus em olímpicas futricas. Quiçá o mesmo dedo que ligou o aquecedor na Europa, e pôs vinhas e queijos, azeitonas e sei lá que mais por água abaixo ou terra abaixo, se faltar água.

Ao desligarem Bagdá, quando as bombas acertaram o botão de lá, em cada uma das vezes que os devotados pai e filho do espírito de porco caçaram o espírito do mal, ninguém se amofinou com inconvenientes e incômodos. Agora, na capital do mundo, com sem-tetos de milhões de dólares, que já deram filme, nos deliciosos sessenta, noves fora, baby boom, a coisa muda! O apagão vai dar de novo; na cabeça, mas recordes de bilheteria e não bebês e, para tanto, pode levar mais ou menos tempo que os nove meses da outra vez.

Correspondente descreveu, ontem, detalhes que a televisão ainda não pode despejar nas salas de jantar. O cheiro de Nova York! Afirmou que o mais impressionante de tudo era o fedor. Contou da multidão de pessoas que optaram por dormir na rua a ter que escalar arranha-céus sem elevadores. Arranjaram sacos de dormir, hotéis emprestaram cobertores, houve muita colaboração, mas todos sabemos como gente cheira, que animal fedorento somos, além onívoro e senhor da razão. Quem já tentou conversar com moradores de rua, aqui, sabe.

O repórter não mencionou como todas aquelas pessoas pressas na armadilha de suas torres, ainda que do lado de fora, se virou sem a mágica da água corrente e tépida aliada a eficiência da invenção de Leonardo que, diga-se, jamais recebeu um tostão pelos direitos autorais...