autora: Mima 

Péricles periclitante

13/10/11

Tenho sonhado mais ultimamente e continuo sem saber por que precisamos sonhar, qual a função dos sonhos no equilíbrio de nossa psique e como seria a melhor relação entre a consciência e o mundo onírico.

Tento surpreender o momento de transição, mas ele sempre me escapa. No limiar, estamos sonhando ainda ou contemplando um sonho que acabou? Nesta linha nebulosa entre as duas realidades me perco, incapaz de perceber a paisagem interna. Outro dia, um sonho esvaiu-se deixando apenas um nome: Péricles Eugênio da Silva Ramos. Por que o poeta e secretário da Casa Civil do governo Paulo Egídio Martins perambulava em um sonho meu? Convivi com ele, sim, no final da década de setenta. Depois, um hiato de mais de três décadas para reencontrá-lo nos devaneios de uma mente adormecida... Reencontrar? Talvez não, talvez apenas o nome estivesse no sonho perdido, do qual nenhuma imagem restou.

Assim como esta vaga lembrança, muito outros supostos sonhos diluíram-se, recentemente, entre o sono e o despertar, este território exíguo, efêmero e tão aliciante... Não me repetirei lembrando mais uma vez o manto de sonhos quando "milhares e milhares de imagens surgem assim cada noite para dissiparem-se quase que imediatamente, envolvendo a terra num manto de sonhos perdidos." Impossível contrariar obsessões, mas é este "dissiparem-se quase que imediatamente", onde o quase sublinha aquele território aliciante!

Outras imagens sintéticas me restam assim a cada despertar provocando uma espécie de nostalgia de um sonho que não se pode lembrar... Um dia o secretário da Casa Civil, outro o próprio governador e em outro ainda uma figura de mulher cada qual como ícone de um sonho que não se pode mais resgatar.

Ou seria possível? Entre tantos fragmentos de lembranças, fica a pergunta: afinal, para que sonhar?

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