Eis o que me pareceu a mais explícita manifestação de alegria: dois bandos de maritacas rodavam pelos céus e enchiam a amplidão de um alarido tão alto que se afigurava apagar todo outro som. A algazarra girava e vinha de todas as direções. O bando maior tinha, talvez, umas trinta aves e o outro, menos da metade. Os coros correspondiam. Em certas ocasiões, efêmeras demais, era possível se ouvir um e outro, como dueto. Impossível era decifrar o que diziam. O bando menor pousou, aos poucos, numa árvore próxima. O outro continuou a zanzar pelo céu carregado de nuvens. Pouco depois, escolheu outra árvore, o pé de abacate, e o tomou com grande agitação e ruído. Não tem como não achar extremamente excitadas tais criaturas gregárias, verdes brilhante e donas de poderosa garganta. Pulavam de um ramo a outro e se agitavam muito sem parar de gritar. Demoravam-se pouco e logo iam em revoadas, em dois grupos barulhentos. Foi quando o sol descobriu uma brecha e vazou cores vivas pela paisagem, que uma voz bem perto ofuscou a gritaria das maritacas. Voz grave, agradável que, a mim, sempre evoca o cocoricar de uma galinha.
Procurei pelo o dono da voz - ou seria a dona? - que, já antes de aparecer mudara a cantoria, para outra um pouco mais floreada e mais aguda. A cambaxirra emergiu entre os galhos de um pinheirinho e pousou a uns dois metros de mim. Por um momento me olhou, mas logo saltou para outro poleiro e, de galho em galho, continuou seu desfile de gorjeios e piares, o que faz esta ave, de voz enorme e corpo minúsculo, também conhecida como garriça e corruíra, se chame, no nordeste brasileiro, rouxinol. Não demorou muito e o passarinho se foi em vôo fácil, trazendo de volta os gritos de alegria - pelo menos assim me pareciam - do carrossel de maritacas. |
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