Uma lufada de vento forte fez chover flores e pétalas com barulho parecido ao de chuva de pingos de água. A paineira, gigantesca nos seus 33 anos, encheu-se de flores, este ano, como nunca antes. Vizinhos comentam e me cumprimentam como se fosse eu o responsável pela generosa florada. Não o sou, é óbvio, mas desconfio de quem o possa ser: a companhia de energia elétrica que, sempre o lamento, aqui não se chama light. Há um mês, mais ou menos, veio o caminhão guindaste deles, como uma poderosa serra motorizada (neste caso, por energia elétrica) na ponta de longo cabo. Com tal instrumento, cortaram galhos, quase troncos, com gestos de passar manteiga no pão, e tantos, a demandar duas viagens de um outro caminhão para recolher tudo. A paineira acabou meio aleijada, desequilibrada, pois toda a copa sobre a rua desapareceu. (O tronco fica quase na divisa). Atribuo a esta fúria mutiladora a explosão da floração extravagante, a chover pétalas e flores, hoje, com o som tão delicado dos pingos da chuva convencional. Há muito cismo produzirem as plantas em abundância quando maltratadas pela natureza, pelo homem ou outro animal. Seriam, então, mais fecundas diante do perigo para garantir a próxima geração. Veio abaixo, com a forte ventania, uma quantidade incalculável de pesadas flores e um número ainda maior de pétalas grossas, cor-de-rosa forte (existem paineiras com flores rosa claro, pálido, tonalidade mais bonita, para mim) escorregadias como casca de banana, ou quase.
Aos ventos e à chuva inusitada, seguiram-se muitas trovoadas e um escurecimento enorme, como se a noite chegasse no meio da tarde. Um pouco depois veio o chuvisco. Chuva pouca, com trilha sonora quase inaudível perto da fúria de flores e pétalas sobre folhagens e telhados. Agora, arregaçar mangas: é vasta a florada a varrer. |
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