Ao fim da audição de apresentação do novo instrumento, o pianoforte, antes forte-piano e, hoje, apenas piano, entre aplausos e suspiros, aquela senhora deixou escapar a frase feita: 'que mais falta inventar!?' A seu lado, cartola na mão, o senhor murmurou entre dentes: impossível adivinhar.
A plateia excitada e emocionada com as possibilidades do novo instrumento musical, capaz de traduzir emoções que ao cravo era vedado contar, não poderia mesmo adivinhar a luz elétrica, o cinema, as lavadoras disso e daquilo, o automóvel, o telefone, a máquina de costura, a de escrever, a guilhotina, o alfinete de pressão, canetas grávidas de tinta, o antibiótico, bombas nucleares, o avião, o satélite, o celular, o náilon, a vitrola, a metralhadora, a matéria plástica, o computador... não, seria impossível imaginar qualquer dessas invenções e tantas outras contemporâneas.
Não poderiam imaginar, assim como ignoramos o mundo dos bisnetos de nossos bisnetos. Podemos, no máximo, hipostasiar novos Jetsons de um futuro decerto muito diferente das quimeras de nossa imaginação.
Grand Piano de Bartolomeo Cristofori - 1720
Naquela audição inaugural, na alvorada do século XVIII, tudo diferia muito desta alvorada de século e milênio. Não acreditariam e nem compreenderiam, por exemplo, um telefone capaz de fazer filmes também. Em contrapartida, tampouco alcançaríamos razões e sentimentos da senhora que, ao ouvir o novo instrumento, apto a traduzir em som as intenções do intérprete ao tocar com mais ou menos força, exclamou, cheia de admiração, a frase feita (ou feita por ela, ali?),: 'que mais falta inventar!?'
Que mais? Tudo, simplesmente tudo que ainda dorme no inconsciente da humanidade à espera de sua hora e vez. Sim, como calcular quantos e imaginar quais inventos ainda resta inventar? Como disse o cavalheiro: é 'impossível adivinhar'.
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