27/01/00
- Sumiu o último pó de vida, o derradeiro pirlimpimpim. A Fada Sininho, de repente, se fez donzela horripilante e aponta, implacável, pecados capitais, um por um. Não pecados capitais genéricos, de todos os homens, pecados sem gênero, compartilhados por qualquer sexo ou por qualquer multidão, não. Horripilante, a donzela põe o dedo no que só para ti se tornou capital, pecado mortal. Mata aos poucos, até o último pó sumir.
- Revertere ad locum tuum - ecoa ainda sobre as cabeças de vivos e mortos o portal de entrada e saída do São João Batista, o cemitério da infância, o quintal do vizinho. Dos que entram, quase sempre, só os vivos saem, os outros ficam para reverter ao pó, barro original e antecessor da costela. Cada qual deveria conhecer seu lugar, sua gaveta, seu escaninho. Escanhoa a cara do morto, mas seus pelos continuarão a crescer debaixo da terra. No meio das lajes, que impedem ainda o contato íntimo com a carne da mãe planeta.
- A fotografia tem esse incômodo aspecto de traço, vestígio, pegada de dinossauro. Para o cachorro qualquer fotografia vale tanto quanto um caderno de anotações para o analfabeto. O gesto incompleto, inacabado, interrompido... Como esta frase, como este texto, como esta vida.
- Futurólogos e seus chutes sem impedimento: "... será óbvio para eles que o que nos parece a metafísica e transcendente essência humana não passa de um programa de computador especial (e muito complicado) rodado em uma máquina chamada cérebro. .... As gerações do futuro saberão que não há nada místico a respeito dos wetware pois por volta de 2100, a lei de Moore nos terá dado minúsculos computadores quânticos com capacidade para carregar (upload) uma alma humana."
- A frase do dia, agora, é esporádica, quando tem, tem. Hoje, tem.
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