Dois pica-paus de penacho amarelo, aves lindíssimas, escalam o tronco do abacateiro e param aqui e ali ao pressentir alguma larva. Experimentam o bico forte. Voam a um ramo fino, onde lhes é mais difícil sustentar-se, para se fartar com abacates ainda verdes, duros, mas não para seus bicos afeitos à madeira. Junto à cerca, o cão uiva um lamento perturbador.
Alguns sabiás, não os laranjeira, outros, mais esguios e em preto e branco, esculpidos em bela gradação de cinzas, se deliciam com as frutas caídas, de maduras ou pela ação dos pica-paus. Estão sempre em bandos e se comunicam com sutis piares. Voam rasteiro quando nos aproximamos, mas ficam por perto, em outros ramos baixos de um recanto onde o mato se fechou, denso. Ao uivo do cão, somam-se outras vozes.
De algum ponto ao norte, que não posso ver, vem o canto de um bem-te-vi. Os dois pica-paus ecoam com voz possante, em uma conversa que não posso compreender. Do sul, outro bem-te-vi responde. Olho e o vejo batido de sol, perfeito, sobre o fio que sai do transformador no poste. Falam-se mais um pouco e ele entra célere no ninho mais alto de uma pilha que, ano após ano, cresce entre o corpo do transformador e seus os tubos de refrigeração. A palha dos ninhos está escurecida, na certa devido ao calor que ali se dissipa.
Duas pequenas pombas observam tudo pousadas em dois grossos fios que, vindos do poste, chegam a uma casa. Muitos cães ladram. Talvez os latidos estimulem o uivar. O sol não consegue de impor, tanta a umidade vinda do mar...
Em vôo peculiar, chega como gesto de bailarina, uma alma-de-gato, ave impressionante, com um rabo mais comprido que o resto e uma cara redonda de olhos grandes, mansos e expressivos. Pousa entre galhos finos de uma jovem árvore. Olha ao redor e desliza para o topo de um muro... Não pia seu miado.
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