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berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Política é o mesmo que...

16/05/01

"aspas"

"É alta, morena, jovem. Um adjetivo clareia, com espontaneidade de espelho: bonita."

Carlos Drummond de Andrade, na crônica "Drink", difundida pela Rádio Ministério da Educação e Cultura, do Rio, no programa "Quadrante", na voz de Paulo Autran, depois publicada em livro homônimo, pela Editora do Autor, 1962.


surpresa é surpresa
enviada por Sandrinha

No senado do Brasil, o traficante de cocaína, armas e sabe Deus que mais, esgrimiu éticas com políticos de todas as cores. Políticos!

Houve uma tentativa de comprar o traficante em pleno picadeiro, com câmaras e microfones ligados, diante do público e dos comparsas de cada lado. O preço poderia parecer tentador. Ofereceram a vida, de forma oblíqua e ambígua, mas era isso. Garantia de vida, como faz a máfia com comerciantes: proteção. Os velhos senadores apelavam à velha tática de Capone.

O bandido disse não. "Porque iria delatar o policial ou companheiro que me ajudou?" Tinha sua própria moral, sua ética de degenerado, excluído, caçado, farmacêutico do diabo, condenado etc. Cuspiu na vida que lhe traziam na bandeja, como sashimi.

Da arquibancada, os senhores das manchetes se deliciavam com o show. Vivem dele. Tudo soa muito normal: delatar, subornar, trair. Zero-zero-sete permite matar e outros códigos são chave para outras permissões. Tudo pode. É a nova ética, a moral de guerra dos novos tempos. Tempo de videogames em painéis de caças à jato sobre caravanas em desertos de Sadans.

Por toda parte se estimula a delação. Evaporou-se o horror e o asco à figura do alcagüete. O dedo-duro já foi símbolo dos repugnantes esgotos da ditadura militar. Ah, os políticos!

Os deputados vivem com conforto. O povo paga. Vendem-se, o povo paga. Sabe-se lá de que drogas dependem ou quem fornece, apenas que o povo paga. São treinados para mentir, chorar, jurar e dar falso testemunho. Sempre com cara de anjinho.

Não me perguntem nem mesmo o título da crônica de Bukowski para o jornal nanico Open City, de Los Angeles, nos anos sessenta, que começa com a carta de um leitor perguntando por que ele nunca escreve sobre política ou assuntos internacionais. O título começa como o desta aqui, mas é só o começo...

 

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