Agarramo-nos aos prazeres do corpo com as unhas da mente. Por isto é-nos tão difícil os deixar à margem do caminho e seguir leves, sem o peso enorme da mochila dos vícios. A oficina da imaginação fabrica o filme do prazer futuro com cenas que resgata da memória de prazeres mortos. Com tintas ideais pintamos falsos prazeres para, com a ilusão de um gozo qualquer, pôr em marcha o maquinário biológico e, assim, mentir ao corpo e a ele nos escravizar. A luta contra este processo é perdida a priori - o ciclo só se rompe pela compreensão. Só há um território em que você é um observador privilegiado desta batalha de vícios: você.
Em a Natureza, como diziam os antigos, o corpo só reage à vera, manifesta-se com espontaneidade diante do estímulo real, quando dada situação se apresenta de fato. Quando as reações a esses estímulos e situações se aperfeiçoaram, há milhões de anos, a mente humana talvez nem existisse ainda ou não se aperfeiçoara. Hoje, é preciso compreender tudo isto e usar toda nossa capacidade para não cair na armadilha do prazer futuro, do prazer almejado, que já traz embutida a garantia de frustração: ao comparar o filme da imaginação com o prazer que se obtém, real, este quase sempre perde, daí, a frustração. Sem as unhas da mente o corpo não teria como se agarrar a tais sonhos de prazeres indizíveis, tecidos com retalhos de lembranças de gozos ampliadas pela lente da imaginação. Ao galgar o degrau que, com altivez chamamos do 'animal racional' abriu-se vasto leque de opções e complicações e o bicho, diante da razão que mal conquistara, se perdeu. |
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