Preguiça de pensar
12/05/17
Abro a janela. De norte a sul, de leste a oeste, o céu se estende azul, isento de nuvens, malgrado um véu diáfano esmaeça a intensidade da cor azul dos dias mais secos. Ligo o rádio. Anuncia-se a previsão do tempo. Uma voz feminina diz estar nublado o dia para, em seguida, anunciar "chuva durante o período". Imagino a repórter meteorológica metida em uma sala sem janelas, defronte a inúmeras telas cheias de informações... Ultrapassado o meio do dia, as condições permanecem: céu azul sem nuvens e ausência quase completa de ventos. Assim caminha nossa sociedade: valorizamos estatísticas mais que nossos sentidos, acreditamos nos computadores mais do que em nossos próprios olhos, ouvidos e tato. Delegamos à tecnologia tarefas antes comuns de cérebros humanos. Lentamente (ou nem tanto) se altera o mundo ao redor. Aos poucos, surge uma nova realidade e, ao mesmo tempo, se diluem antigos marcos psicológicos e sociais. Testemunhamos a transformação do conhecido em algo ainda nebuloso, difícil de nomear e até de compreender Primeiro valorizamos a palavra acima dos fatos, do que é. (Veja-se "A Palavra Pintada", de Tom Wolfe, autor também de "Fogueira das Vaidades", apontando a importância crescente, durante o século vinte, do discurso sobre a obra de arte em detrimento da própria obra.) Agora, entregamos progressivamente aos computadores a tarefa de pensar. O novo cientista, o novo filósofo, o novo pensador, os novos oráculos são, cada vez mais, algum programa em algum computador e preferimos as informação na tela sobre o clima chuvoso a escancarar as janelas para sentir na própria pele o calor do Sol e ter a visão ofuscada por seu intenso brilho, mesmo quando sua luz nos chega muito enviesada nesta época, nesta estação. Depois de "A Palavra Pintada" afloram os tempos d'"A Realidade Computada". |
Fri, 12 May 2017 21:52:40 -0300 Ficamos obsoletos... Vamos curtir nossas velhices da melhor maneira que pudermos. Fri, 12 May 2017 23:05:12 -0300 muito boa! outro dia li que, nos tempos em que se decorava na escola (tabuadas, verbos, por exemplo), perdia-se menos a memória, pois agora temos tudo na ponta do dedo (no teclado) diante dos olhos (na tela). Quando apareceram as pequenas calculadoras, dizia-se pra não deixar de fazer contas sem elas ou desaprenderíamos. Agora desaprendemos totalmente de pensar! sem assinatura Obrigado. Não há dúvida que a velha "decoreba" era um exercício para a memória. Sat, 13 May 2017 09:51:28 -0300 Oi, Clôde Bom dia, Ana. Date: Sat, 13 May 2017 19:21:59 -0300 Perfeito!! sem assinatura Obrigado. Sun, 14 May 2017 11:03:01 -0700 (PDT) Bonita foto, meu charmoso irmao. A foto é a mais recente de todas que ilustram as crônicas. |
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