Há uns seis ou sete anos ouvi, ou vi, um estímulo à delação. Estava com meu filho e ele se espantou com minha indignação. Defendeu a atitude abominável com a desculpa de que seria válida em certas circunstâncias. Viu que o velho era pior que jumento quando empaca. Por fim, usou o argumento contundente: e se meu filho - ele -, ou neto - só havia um, então - fosse seqüestrado, eu não concordaria com o auxílio de delatores para solucionar o seqüestro? Disse que não. Ele desistiu, sem acreditar muito no pai.
Por meu turno, havia tentado expor que, para mim, o importante era o princípio e, diante da impossibilidade de clarividência, agarram-se os princípios, em qualquer hipótese. Era e é apenas isso, delatar me parece uma atitude sórdida, vil, que mistura covardia, bisbilhotice e muito mais.
Também por princípio, cada um deve se ocupar de sua vida, de seus afazeres, de suas coisas. Decifrar atitudes alheias é ultrapassar esse limite, salvo quando se trata de fiscal, policial etc. Aliás, a sociedade, por princípio, não deveria precisar fiscais, policiais etc., é óbvio.
Onde estão os homens? Homens e mulheres que respondem por si, que cuidam de si e de seus afazeres e não perdem tempo com fofocas, com disse-que-me-disse, com invejar a fortuna e fama alheia. Mulheres e homens que pairam acima do zumbido dos anúncios e, por isso, não são a eles subordinados para marcharem como robôs ou soldadinhos de chumbo aos shoppings e supermercados e comprarem e sonharem com mais compras e viagens e... Onde?
Eram discussões calorosas. No fim, se posso confiar na memória que, hoje, esquece mais que lembra, disse que se a tal novidade, que me horrorizava, da delação estimulada, vingasse, teríamos conseqüências desagradáveis. É óbvio, cada ação provoca uma reação.
Veio mais rápido do que podia supor.
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|