Quando menina entra
21/03/16
O "clube do Bolinha" dos gibis de minha adolescência celebrizou a proibição "menina não entra". Hoje, a locução virou metáfora bastante usada em brincadeiras e libertinagens de adultos, mas era uma realidade no Colégio de São Bento. Lá, menina não entrava por imposição dos monges administradores, eles também, hipotéticos celibatários nas sombras do claustro do mosteiro centenário. Naquele claustro, bem me lembro, se caminhava sobre túmulos de muitas gerações de monges. Acompanhei, em uma ocasião, um sepultamento ali. Impressionou-me o grande volume de cal derramado sobre o caixão. Interpelado, um dos monges me explicou ser preciso, por estar o mosteiro sobre um desses maravilhosos granitos do Rio de Janeiro... Ontem, domingo de Ramos, lembrei ser o único dia do ano que se permitia às mulheres visitar os bastidores do claustro da imponente construção, como parte dos festejos católicos da data. (Pelo menos era assim há sessenta anos). Diga-se, os monges beneditinos eram muito bons nos "espetáculos" que promoviam. Já mencionei a elaborada cerimônia da passagem da sexta-feira da paixão para o sábado de aleluia. Na missa do domingo de Ramos, celebrada pela manhã, alguns monges - ou melhor, "irmãos" - moradores do local sem instrução para ser monge (lembro bem do irmão Lino, encarregado do bar, a vender guloseimas para os alunos no recreio) - alguns irmãos, dizia, entregavam, na porta da igreja, uma grande folha de areca-bambu a cada pessoa. Como eram folhas enormes, os bancos do templo se transformavam em uma vistosa e peculiar "floresta". Terminado o rito na igreja, existia uma espécie de confraternização, se não me engano e, nesta ocasião se permitia a visitação ao claustro, inclusive às mulheres. A multidão podia, assim, caminhar sobre as criptas carregando seus ramos de areca. |
Mon, 21 Mar 2016 10:12:15 -0700 (PDT) adoro suas lembrancas do Sao Bento sem assinatura O Rio de Janeiro, percebi depois de velho, foi onde caiu o punhado de pedras atirado por Jeová ao léu: O Pão de Açúcar, o Corcovado, a Pedra da Gávea, os Dois Irmãos, a pedra do Leme, o Cantagalo e um sem número de outras "pedrinhas" como os outeiro da Glória e a do morro do São Bento... São elas, em profusão, que tornam o Rio o que é. Date: Mon, 21 Mar 2016 21:29:46 -0300 Você tem uma bela memória! Mas confesso que minhas lembranças tem mania de pensar em outras coisas... sem assinatura Que bom que assim seja, não? Tue, 22 Mar 2016 16:37:55 -0300 gostei muito. sem assinatura Sim, exatamente. Sem terra a decomposição é mais difícil... |
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