Há dezessete anos as crônicas aqui se estendiam pelo dobro do tamanho das atuais, ou mais. A do dia 18 de março brincava, ao terminar, com uma frase famosa, famosíssima, seguida por outra a mimetizá-la. Esta se aplicaria a qualquer época, dos tempos de Cleópatra às presentes trapalhadas deste incipiente recanto de civilização.

A primeira frase dizia: "O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm."* - admirável observação de René Descartes em seu "Discurso sobre o Método", em tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior.

Aproveitando a perspicácia da visão e elegância da formulação, se propôs na velha crônica: "Por outro lado, a coisa do mundo pior partilhada é o poder, pois cada qual jamais julga ser suficiente o que tem, e mesmo quem o tem quase absoluto, continua a desejar tê-lo mais do que já o tem."

Poderia ser melhor enunciada mas, com certeza, quem adquire algum poder logo vê surgir o desejo de o aumentar e isto implica em o não partilhar. O poder é como uma sede insaciável e a perspectiva do final de um poder, como o término de um mandato por exemplo, aparece como uma espada de anjo exterminador ao poderoso em vias de o deixar de ser.

A verdade vale para todo o espectro do poder além de governantes e endinheirados, pois cada detentor do mais ínfimo poder com ele igualmente se embriagada, quer sempre mais e teme, cheio de pavor, a hipótese de o perder. Sua angústia ante a possibilidade do fim do poder é idêntica a dos grandes poderosos. Ouvi, quando estive no governo, como voz corrente pelos corredores: "no último dia, o garçom derruba o café no seu colo", isto é: ele continuará (poderoso) e você, não.

* "Le bon sens est la chose du monde la mieux partagée : car chacun pense en être si bien pourvu, que ceux même
qui sont les plus difficiles à contenter en toute autre chose, n'ont point coutume d'en désirer plus qu'ils en ont."  

Fri, 18 Mar 2016 11:14:50 -0300

D' accord! Dito em outras palavras, o poder corrompe. Os anarquistas devem ter reconhecido isso...
Bjs
Ana

Torna-se um vício, como a cachaça ou os cigarros. "Menina, eu vi."

Fri, 18 Mar 2016 10:09:59 -0700 (PDT)

ua frase sobre poder eh tao boa qto a do Descartes sobre bom senso
parabens!
poder eh uma droga, vicia, cria dependencia, nunca eh suficiente, e derruba a pessoa, a dignidade, e o tratar o outro com dignidade

      sem assinatura

Foi copiada dele.
Bem observada a interferência quanto à dignidade.

Fri, 18 Mar 2016 10:11:11 -0700 (PDT)

nao conhecia a do garcom, cafe no colo

ante da possibilidade ... pensei q era "ate a possibilidade"

      sem assinatura

e é, obrigado. vou corrigir.
      (sobrou a preposição de algo que mudei...)