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Rapto do Sabino26/05/01 |
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"aspas" "Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim." Cecília Meireles, na crônica "Arte de Ser Feliz", difundida pela Rádio Ministério da Educação e Cultura, do Rio, no programa "Quadrante", na voz de Paulo Autran, depois publicada em livro homônimo, pela Editora do Autor, 1962. |
Roubo um pequeno trecho de outro cronista para ter este título, mas comecemos de forma oblíqua, como sempre. A década de sessenta já passava da metade quando apareceu por aqui o gravador cassete. Sua chegada, aliás, propiciou muitas piadas com o nome. Mas o primeiro gravador é lembrança da infância, nítida e indelével, portanto, embora sujeita à cores de fantasias. Um tio, professor de eletrônica, trouxe o aparelho. Lembro bem da tampa, de material plástico transparente, amarelado, típico da época, daqueles que, com o passar do tempo, se enchiam de minúsculas rachaduras e perdiam a transparência. A fita ia de um carretel para o outro através de roldanas e engrenagens, como nos projetores de cinema. Colocar a fita parecia uma operação delicada e complicada. Depois, era ligar, falar ou cantar, ou tocar ou fazer o barulho que fosse. A máquina repetia tudo "igualzinho", com "perfeição". Tudo isso porque dei com uma crônica de Fernando Sabino, de 1962, onde ele conta sua primeira experiência com um gravador. O título diz da sabedoria de sua visão: "Máquina do Tempo". Ele conta que, como meu tio, um amigo trouxe a máquina para lhe mostrar e depois de muito se divertirem com a novidade, ela lá ficou, esquecida na casa do cronista. Um belo dia, antes de devolvê-la, ele resolveu escutar tudo que estava ali naquela fita. Ficou assustado por estar brincando com o tempo! Conclui a crônica assim: "Deixemos de lado êste aparelho, que não serve para nada. De tudo que ficou gravado nêle, mesmo de uma voz de criança chamando pelo pai ou uma voz de mulher dizendo 'desliga isso aí e vamos jantar', colho apenas uma lição : não se brinca impunemente com o tempo. E esta lição é mais antiga do que o Antigo Testamento." É instigador. Por que não lhe parece igualmente "brincar com o tempo" a informação impressa, mesmo quando reproduz o que falou uma pessoa? Por que nos surpreende - ou melhor, nos assusta -, o som de nossa voz? Hoje, no tempo dos bancos de dados, com instrumentos muito mais poderosos que aquela fita, capazes guardar texto, som, imagem e sabe-se lá que mais, estamos todos desafiando o Tempo ou já cumprimos a inevitável punição pelo desafio feito? |
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