crônica do dia

Registro

05/09/06

O dia vem azul, sem nada de extraordinário exceto a temperatura - de verão antártico!

Sucumbo ao clima implacável como a um vício difícil de largar e acendo a chama da lamentação com gesto repetido, como quem leva mais uma vez o palito de fósforo aceso à ponta do cigarro, já que me prometi calar sobre o frio.

Não foi a mínima do ano aqui - parece que foi em Porto Alegre, com 4ºC, ao nível do mar! - a mínima do lado de cá do fim do mundo está vaticinada para amanhã. No amanhecer de amanhã, dia seis de setembro, os sarcásticos oráculos do calor e do frio calculam para São Paulo uma temperatura entre cinco e seis graus Celsius.

Enfim, não resisto ao registro, como não resisti à brincadeira com as palavras, que os doutores em belas letras chamam de aliteração, porque ali muitas letras (littera, em latim) se repetem, quase ecoam. Afinal, faltarão 17 dias para a eclosão da primavera - eclosão porque persiste em mim a imagem de estação das flores, que aprendi no primário, em um país onde há flores por toda parte, todos os dias - e, dali, menos de noventa dias nos levarão ao solstício de verão! O dia mais longo, sol a pino e coisa e tal...

Depois virão quem vive de defender natureza, urso panda e ventos e nuvens para me dizer que meu bafo esquenta demais a terra deles e dos periquitos e pingüins e araras azuis...

Deus e o Diabo brincam de inverno e verão, mas a cobra sai, é claro, de onde menos se espera. Sabe-se lá como vai morrer a metade da humanidade para que um novo Malthus refaça em paz suas previsões.

Previsões, todavia, são feitas para serem desmentidas por fatos. Hoje mesmo a moça do tempo, provavelmente com um belo batom cobra coral, anunciou céu azul impecável, 'azul polar', disse, a explicar o adjetivo de sua especialidade. Pouco depois, o céu se congestionou de nuvens densas e o ar pesado umedecia a alma. Que errem também nas predições para amanhã.

 

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