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Resposta tardia11/10/05
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ANEXOS: |
"Pelo pouco que pude perceber, para os poetas só existem dois tipos de mulheres: as bonitas e as feias. Ignoram as mulheres de aparência comum e pouco percebem o quanto estas lhes renderiam textos de finais imprevisíveis. O que será uma mulher comum? Quase bonita ou quase feia? Estará ela na beira de ser o que quiser? Poderá ela escolher o que vai ser quando crescer? Começo a achar que as mulheres comuns, contrariando o significado da palavra comum (habitual, usual, normal, vulgar) são aquelas que carregam consigo mais entrelinhas do que se pode dizer, caminham pela vida afora se utilizando do poder de, a cada dia, surpreender." Achei esta carta, de 97, segunda enviada ao sítio, reação à sexta crônica: "A mais bonita". Concluía: "Já tem crônica pra hoje?" E se seguia assinatura feminina, é óbvio. Na época, saí pela tangente e só respondi a isto. Hoje, tento resposta tardia. Não posso falar por poetas, não sou um deles, mas diria que não. Nem o homem, nem a mulher, ignoram o comum, o granito, a areia ou outro tipo de terra, mas exaltam (ou reclamam) do que é raro. Apontam o diamante (ou o lodo fétido, por exemplo). Mulheres e homens, sejam poetas ou poetizas, cronistas ou o que for, são, salvo raríssimas exceções, pessoas comuns e convivem com pessoas comuns. Exceto para a ínfima minoria, o cônjuge é pessoa comum. Os filhos são pessoas comuns etc. A crônica, malgrado o título, queria esvoaçar em redor do mistério que o próprio Jung desistiu de compreender quando disse "Suponho que a avó do diabo entenda muito da verdadeira psicologia da mulher, eu, no entanto, até agora, não." Poetas e poetizas de meia-tigela, com cara de anjo ou de fauno fajuto, parecem, de fato, mais destinados a decifrar entrelinhas e se surpreenderem com as pessoas, e não, com seus aspectos. Melhor seria nunca? |
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