Chega a "época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador" É o solstício, que marca o início do verão e do inverno - em cada hemisfério. Os astrônomos calculam e indicam 19 horas e 50 minutos da próxima segunda-feira, dia 21.

O que temos visto, na prática, com a ajuda de todos os fenômenos meteorológicos recém explicados, é que ele, quando vem, chega atrasado. O sol também parece preguiçar. Nas manhãs frias e úmidas deste trópico de Capricórnio, sua luz oblíqua só destaca as cores, azula o céu e aquece um pouco a alma, quando já vai alto, ou mais perto do equador, como quer a definição do dicionário acima, com um ponto de vista centrado no umbigo da humanidade.

Passa das dez e só agora os primeiros raios pintam a folhagem de novos verdes - antes, a névoa, as brumas. Com esses raios ainda titubeantes, chegam muitos passarinhos, ciscando o chão, na cata de alguma iguaria ou material de construção. Tudo está muito quieto, salvo alguns pios. Dois sabiás, de peito cor-de-laranja pula de um para outro galho da jabuticabeira. Um pequeno pardal saltita entre as dobras de uma imensa folha de palmeira caída, olha em volta, e some outra vez entre as tiras marrons da folha morta. A sabiá - não que tenha certeza de seu sexo, mas apenas por achar graça em um substantivo de dois gêneros - a sabiá limpa suas penas com o bico, no galho da jabuticabeira. Às vezes, em seu movimento, um raio de luz coada pela copa a ilumina como um spotlight.

A luz mais oblíqua, mais rasante à superfície das coisas, nos parece mais bonita. Nesta época, quando a Terra aponta o Pólo Sul mais para fora, para a escuridão do espaço, é quando a luz solar nos chega mais oblíqua, mais ou menos como está chegando, só agora, em pleno verão, nas cidades da Europa e do norte dos Estados Unidos. Lá, eles nunca têm o sol a pino, caindo vertical sobre suas cabeças.

Os pássaros se foram, todos. Silêncio. Um motor de avião passa ao longe. Uma brisa muito leve avisa que a paisagem não é uma fotografia. O céu se encheu de nuvens brancas, que apagaram o sol. A umidade confirma a condição tropical.

Na semana que vem, os dias começarão a ficar mais longos.

Esta imagem indica o início da noite mais longa para nós, ao sul do equador. Para os ricos, será o dia mais longo. (Note que o pôr-do-sol será quase ao mesmo tempo aqui e, por exemplo, em Lisboa.)