Embora velho e passível de tombamento por qualquer museu, tanto quanto de tombar por descuido ao subir, descer ou mesmo andar, me acontece de olhar lembranças do que vivi, com estes olhos, e duvidar por um instante, do que vejo ou recordo. Será? pergunto, e por algumas não juro, como a de bonde puxado a burro pelas ruas de Nova Friburgo. Talvez apenas imagens que me ouvi contarem. De outras, não: estou certo, como esta que vou contar.
Cheguei a São Paulo e ouvi: conhece Ilha Bela? Diante da negativa, descreveram-me o paraíso de Jeová para o par inaugural, antes da descoberta crucial. A ilha seria mais maravilhosa do que o Rio.
Veio a noticia da chegada de dois pescadores cearenses lá, em Ilha Bela, de jangada, depois de muito sal e mar. Iria fotografar, pois o jornal tinha pressa, claro, e não havia internet, foto digital e, em Ilha Bela, nem mesmo telefoto. Até chegar era difícil. Não tinha campo de pouso. Pequenos aviões arriscavam certo pasto espremido entre dois morros... e lá fomos, em um aviãozinho com asas cobertas de pano, chamado de paulistinha. Era melhor que um 14bis.
Para pousar, o piloto primeiro passou sobre o pasto para espantar as vacas, em vôo rasante. Depois voltou para um pouso em um campo fértil, de mato alto e todo esburacado. A aeronave trepidou tanto e esbarrou em tanto mato que rasgou as asas. Fosse pássaro, perderia penas.
pouso do ônibus espacial, em 9 de agosto de 2005, em uma base-aérea num deserto da CalifóriniaDeveria voltar no mesmo dia, mas não deu. O piloto mesmo remendou as asas com esparadrapo de quase um palmo de largura, que comprou por lá. A volta foi tranqüila.
Lembrei-me de tudo quando o aviãozão, também é chamado de nave e ônibus, pousou num deserto, na Califórnia, na volta de uma viagem espacial! Também foi preciso fazer remendos nele. Seria o caso de mandar para o espaço muitos rolos de esparadrapo. É ótimo! Os pássaros sabem, pousar é que são elas.
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|