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Seca
16/09/14
E a chuva passou batida, caíram quatro ou cinco pingos aqui. Gosto do tempo seco, mesmo quando os índices de umidade estão na zona de perigo pelos critérios da Organização Mundial de Saúde, mas testemunhar essa multidão de seres moribundos, glebas cobertas de mato nativo tostados pela absoluta falta de água, ver uma araucária centenária morrer à mingua pelo mesmo motivo e a outrora fértil sobra de mata atlântica definhar rumo ao cerrado, vislumbrar no horizonte do tempo a caatinga aqui, diante desse panorama de morte e destruição, anseio pelo elixir da vida, pelas chuvas agora tão escassas como nas célebres secas do Nordeste com seus flagelados. Flagelado - termo comum em minha infância, sempre associado ao tormento da seca nordestina.
Prometeram chuva e tudo se resumiu àqueles quatro ou cinco pingos. Não deu nem para molhar o chão. À tarde, sob um céu já coberto de nuvens, um tucano cruzou a rua em voo baixo diante de mim. Pousou em um coqueiro, do outro lado, onde outro tucano já se deliciava com os coquinhos, aos cachos, amarelos e pequenos. Parei para olhar a beleza das cores das aves - preto, branco, amarelo e vermelho - todas cores intensas e brilhantes. Decidi atravessar também a rua para os ver mais de perto, mas ao aproximar-me eles voaram de volta às copas do outro lado da rua, mais altas e generosas. Adiante, parei para colher uma ou outra amora do ramo que se derrama sobre a rua e tinge o chão de terra. Estava ali nas delícias de frutas bem maduras quando passou uma senhora, empregada em um vizinho, e perguntou-me se eu gostava de amora. Diante de minha resposta positiva, explicou por que ela não gostava: quando criança, tinha em casa uma amoreira, mas nela dormiam as galinhas e as amoras estava sempre cobertas de cocô de galinha... Uma chuva forte também poderia lavar as amoras. |
Tue, 16 Sep 2014 09:24:23 -0300 Oi, Clôde Encontrei no Houaiss jerivá: "palmeira solitária de até 30 m (Syagrus romanzoffiana), nativa do Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil (BA até MG, RS, GO), de estipe ereta e cilíndrica, folhas pinadas verde-escuras e crespas..." etc.. Não atentei à palmeira pois os dois tucanos prendiam minha atenção. Chamei-a de coqueiro devido a abundância de cocos e na suposição de ser coqueiro o que dá coco. De todo modo, o mesmo dicionário define coqueiro como "design. comum às palmeiras que produzem frutos comestíveis, ou de largo emprego industrial". Agora me volta a lembrança da quitanda do seu José, na esquina, que vendia cocos-de-catarro, também amarelos, ao preço de um centavo! Tue, 16 Sep 2014 03:38:28 -0300 Gostei muito. bj sem assinatura Que bom. Ando meio ocupado com outros afazeres, mas ontem foi demais. Teve, ainda, o diálogo com uma figura meio pancada que perambula por aqui e cismou que eu trabalhara no hospício... Dia quente e gostoso. Tue, 16 Sep 2014 10:28:04 -0300 Nossa, A D O R E I ! adorei tudo, até a mulé que tentou estragar seu apetite amoreiro! ADOREI rever o Henfil, que saudade!!!!!!!! Ele era perfeito! Corri a pôr a vírgula! Já disse e repito: adoro que me corrija. Deveríamos sempre corrigir, a todos em todo momento. Agora, faço eu uma correção: "Ainda bem que ainda existe quem escreva maravilhosamente como"... não eu, mas você. Não é 'rasgação' de seda, mas você é escritora, eu, mero diletante. Tue, 16 Sep 2014 09:22:55 -0700 a falta de chuva assusta, né? sem assinatura Sim, como disse algum comentarista outro dia: "gasolina tem substitutos, água, não". As represas estão quase vazias. Se não chover, vira nordeste, com a pouca água em panelas e latas para sustentar a vida. (Certamente os ricos darão seu jeito, mas a maioria sofrerá.) Thu, 18 Sep 2014 19:24:35 -0300 que delícia de cronica! bjs sem assinatura Obrigado, mas não esqueçamos que sois suspeita. :-) |
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