da série nojo!

Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

Seleção

09/05/02

Mais dia, menos dia vem a nostalgia da torcida rubro-negra - ou corintiana, tanto faz. Mais dia, menos dia, aquele que nunca ouviu elogio, nem mesmo da mulher, tem saudade do ulular da turba, do aplauso da multidão, da ovação dos campeões.

Há um tempo de sonho em que todo homem crê que pode criar uma pequena ilha de felicidade ao redor do próprio umbigo, para onde arrastará a amada pelas cabeleiras dos sonhos através dos umbrais de metáforas e ritos de seu tempo.

Cercará o feudo de fossos povoados por jacarés, aligátores, gaviais, crocodilos, caimões e pontas de tecnologia levadiça e semeará grades e gradis inabaláveis e inoxidáveis com remotos controles por esputiniques e espoletas para, por fim, no recôncavo perfumado e macio da amada, descansar como Jeová depois da labuta.

E por mais confortável que seja o castelo ou esbraseado o aconchego do ninho, vem o dia da nostalgia de maracanã lotado e, à primeira brisa, vai por terra todo sonho de felicidade. Daí, eclode o candidato. Emerge, úmido e pegajoso, o político nato, o benfeitor da humanidade.

É época de revoada. Velhas mariposas rodopiam em alvoroço a disfarçar asas corroídas e chamuscadas. Sonham com escamas jovens e impecáveis, de cores irisadas, mas logo morrerão. Vivem.

Não há cigarras ou formigas por aqui e as mariposas passaram por acaso. Restam políticos e candidatos, redentores de todo tipo, para todo gosto, para todo bolso. Desde já, pregarão com o dinheiro alheio, para deixar explícito o que mudará nas novas sociedades que apregoam.

Aqui, o processo de seleção lembra o dos insetos sociais, mas ao revés: lá, a rainha voa o mais alto que pode para selecionar os melhores machos e suas qualidades para a prole. Aqui, se desce o mais baixo possível e, se seleciona, assim, a próxima safra de governantes.

|2452347.387| |home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|