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Seu Adriano19/07/02Encontro seu Adriano. Ia a entrar no carro mas, ao me ver, sai e vem cumprimentar, com um grande sorriso. Conta de suas correrias, anuncia seus 65 anos, fala do novo minishopping que constrói e diante do qual conversamos. Se apressa a explicar não precisar daquilo, faz por gosto, por não saber ficar quieto, puro prazer de empreender. Fala animado do que ergue e transforma: aqui, as lojas mais simples, lá, as mais sofisticadas. Depois se despede, sempre cheio de energia e some no contraluz do pôr-do-sol, com a pele queimada, em reluzente carro prateado. Seu Adriano se tornou mais afável. No início, foram relações comerciais: vendeu-me pelo menos metade da casa onde moro: tijolo, pedra, areia, privada e sei lá quantos mais dos milhares de pedaços que, juntos, viram nossas complicadíssimas tocas. Há três décadas, era dono de metade do mundo, o que só desvendei muito depois e aos poucos. Sem bisbilhotar, sem perguntas. Era informado de um jeito ou de outro. Fulano mudara porque o aluguel estava pela hora da morte, seu Adriano exorbitara no aluguel de todos. Murmuravam, e o faziam com o empenho de difusora. Sim, o supermercado também era dele e, aos poucos, emergia a verdade de que todo o centro comercial estava em imóveis de sua propriedade. Mais: os terrenos baldios adiante, hoje com o comércio de mais requinte, eram ainda parte de sua capitania. Talvez por isso tenha se apressado em assinalar não carecer fazer o que fazia. Galbraith opinava que a riqueza é inútil a quem não a puder ostentar. Não obstante, seu Adriano sempre foi simples, de fala, roupas e gestos capazes de o confundir com os empregados, atrás do balcão do depósito. Até outro dia, ainda o via montar nos caminhões basculantes e sair por aí, sempre bem-disposto, sempre na correria. Como disse seu Adriano, muito que se faz por inércia, não por necessidade. |
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