O enxame evoluiu de um pequeno bando de grandes e belos marimbondos negros alvoroçados ao redor do topo do poste. Logo se viram outros chegarem ali e a existência de muitos mais dispersos nas cercanias.
Pareciam procurar algo, na certa, um bom lugar para construir morada. Um indivíduo pousava por um instante na folha mais alta de um planta e logo seguia adiante, em sua busca. Pareceram-me preferir os topos, o ramo mais alto, cada poste ou palmeira em seus caminhos.
Passava um pouco do meio-dia e, para contradizer a previsão, o dia era de céu azul e sol beleza. O ar imóvel, sem respiros de um zéfiro. Pequenas borboletas de cores variadas pontilhavam a paisagem. Dois pássaros perseguiam-se contraluz, como qualquer casal.
Ao se aproximar, um marimbondo exibiu reflexos metálicos verde-escuro, como pintura de automóvel. Eram indivíduos grandes e, bem de perto, ameaçadores. Como fazem tantos marimbondos para não se perderem uns dos outros, em vôo assim, espalhados numa grande área?
A luz baça do mormaço alerta para a afluência de muitas nuvens, encarneiradas, vindo de mansinho do oeste. O sol oscila, mas parece verão. Duas pombas, pequenas, acinzentadas, claras, repousam em ramos altos e nus da paineira. Nos mais altos destes se vêem já os brotos das primeiras folhas, num verde-alface que, logo, se escurecerá. É a primavera nas entrelinhas...
Sob a imensa folha da palmeira pequenas vespas, pretas, constroem outro andar em seu ninho de papel. Não é modo de falar, algumas vezes mastigam fibras vegetais com muito cuspe e, disto, fazem excelente papel. Todavia, não prevêem a efemeridade do suporte que escolheram para o ninho...
Que fazemos nós, capazes de tantas previsões? Que mudamos tanto a face do mundo enquanto as vespas continuam a construir e procriar como há milhões de anos? Quê?
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