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software30/08/02Pecado capital. Defeito de fabricação. Caráter hereditário. Seja lá o que for há em cada um de nós uma ou várias peças defeituosas, hábitos que percebemos como nocivos a nós mesmos e, todavia, parecem mais poderosos que nossa vontade, comportamentos que debalde nos prometemos modificar. Continuamos vida a fora a cultivar como planta de vaso o vício abjeto, a bater pino com as partes desajustadas. Um desses horrores a me perseguir desde sempre poderia se intitular incompetência absoluta para os tratos mínimos da diplomacia básica. Voilà! Não consigo, jamais, lidar com... pessoas. São o bicho que mais desafia minha compreensão. Certamente um de meus defeitos genéticos vem do software encarregado do banco de dados gente e de suas ramificações como conhecidos, amigos, amigas e de inúmeros departamentos, há muito vazios em meu caso, fornecedores disso e daquilo etc. Encontro com uma pessoa, que tem um rosto. Ela me olha. Sorri. Reconheço seu rosto, claro, mas não sei quem é. Pronto! Começo a suar frio. Ela me conhece, quem será? - sofro. Nos milésimos de segundo a seguir, a tortura chega ao auge: é mulher, meu Deus! de onde será que nos conhecemos? Quanto nos conhecemos? - impõe a espada da razão a um banco de dados sem respostas. Oi, Clode, tudo bem? - ela diz. Pronto, ela sabe meu nome e eu não sei de quem se trata e muito menos seu nome. Tudo isso demorou apenas uma fração de segundo, claro. Há um leve vacilar na hora do cumprimento. Beijo, não beijo? Ambos parecem esperar o outro. Ficam no ar beijos não beijados. O que se fala é prosaico, mas há a desculpa dos estreitos corredores do supermercado e o balcão de carnes esfria o ânimo. Ela diz que aproveita o horário pois a Júlia está dormindo. Júlia? Sorrio sem saber quem me fala. Dez minutos depois, só, a caminho de casa, vem o nome e a ficha completa. |
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