Sonho utópico
26/02/19
O senhor Ricardo Vélez Rodríguez adormeceu e sonhou. Uma após outra, surgiam do nada vaporosas mulheres de belas formas e fartas cabeleiras esvoaçantes e cada uma apresentava ao ministro recém-empossado, como se fosse um filme de Hollywood feito no maior capricho, a infindável sucessão de misérias decorrentes do culto ao nacionalismo que, no passado, assolou pessoas, indiscriminadamente e em quantidades ciclópicas. Explicavam elas, didaticamente, ilustrando tudo com páginas da História dos últimos séculos, o absurdo de levantar um país contra outro, sejam, ou não, vizinhos, o descabido das bravatas e incitações à luta comuns em hinos nacionais, o estapafúrdio culto de uma bandeira, associada a uma nação ou de um escudo e outros distintivos de fragmentos da população humana. Com o desvelo de verdadeiras professoras, as visões se alternavam cheias de energia e pedagogia para fazer transparecer ao Ricardo, com o uso de recursos só disponíveis nos sonos mais profundos, o Nacionalismo como verdadeira ameaça à paz, à harmonia, à qualquer possibilidade de autoconhecimento. E, insistiam elas, sem autoconhecimento tudo mais acaba por desmoronar. Na manhã seguinte, o senhor Ricardo Vélez Rodríguez acordou mansamente como se ainda estivesse inebriado por vapores oníricos e não respondeu quando lhe perguntaram se estava tudo bem, apenas sorriu. Já no Ministério, apressou-se em desfazer cabalmente seus feitos da véspera, através de revogações ou novas determinações para nunca mais incutir o Hino Nacional em nossas crianças e, muito menos, pretender filmá-las durante a audição... Ricardo tinha finalmente clareza, compreensão dos fatos como são, sem nenhum ranço de nacionalismo. Finda a utopia, permanece a dúvida: o que fariam, ou melhor, farão com as imagens obtidas durante a execução do Hino? |
Tue, 26 Feb 2019 14:19:13 -0300 Obrigada, Clôde Obrigado eu. Wed, 27 Feb 2019 10:42:42 -0300 Acho que vivemos um período lamentável. E pelo que vemos tudo isso só deve piorar... infelizmente. Mas esta é a nossa vida atualmente... não sei até quando. sem assinatura Nada sei sobre o futuro mas, sim, o presente é este: lamentável. |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|