desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

SONHOS E MEDOS

23/04/07

Quem é Tina! - exclamei quase aos gritos, no limite do descontrole.

A senhora à minha esquerda ergueu as sobrancelhas, mediu-me com vagar e a apontou no gesto da cabeça: aquela, disse.

Quando, por fim, Tina chegou a seu caixa, eu já dera outra solução (ou não solução) radical: larguei no sonho compras, carrinho, o caixa, a caixa - a tal Tina -, e acordei. Assim se acabou o pesadelo e dele saí como de um sonho mau, dos que maltratam quem sonha - vítima, paciente, réu, qualquer coisa menos sonhador.

Despertei e, com o eco do filme - não são os sonhos filmes com que a natureza precedeu os Lumière? - procurei vislumbrar pelos umbrais da consciência as cenas que pude e logo se esvaeceriam no limbo que a Psicologia vasculha: carrinhos de supermercado a se esbarrar em corredores estreitos de prateleiras cheias de mercadorias agressivas; descobrir produtos não escolhidos em seu carrinho sem saber como foram para ali; ignorar onde encontrar aquele que precisa etc.

O peso e o pesadelo das compras. Sem o caixa, porque o pagamento em si, para mim, não faz parte desse calvário. Cada um tem seus sonhos e os pesadelos lhe emergem de incompetências e limitações.

Claro, qualquer psicólogo, do 'de botequim', tantas vezes mencionado aqui, a seu 'freudiano pai', veriam aí farta matéria para outras ilações. Diriam que o approach de sonhos não deve ser direto, que neles tudo é simbólico e coisas assim.

Devem estar certos e eu torto de me torturar com sonhos e os expor aqui, vez ou outra, como hábito coletivo de povo antigo, segundo Jung, que se sentava de manhã, em círculo, e contava cada qual seu sonho.

Do suor e medo deste pesadelo sublinho: medo e não tem por quê. Tigre mete medo por poder nos matar, jararaca por seu veneno letal, mas temos medo de altura, de voar, de escuro, de elevador...

De um jeito ou de outro, cada mania acha seu louco.


 approach: o Houaiss e o Aurélio registram a palavra, o Vocabulário Ortográfico da Academia,não.

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