|
Subúrbio13/10/05Subúrbio, periferia, cidade satélite, cidade dormitório - quarto de empregada da metrópole megalômana. Lá se coloca o lixo das gentes como primeiros musgos e espinhos para conquistar e fender pedra dura. Ervas pioneiras que sobrevivem e criam o substrato novo que precisam, a conquistar e coroar cada palmo de granito. Alheios à metáfora em que me perco, cumprem as leis fundamentas da biologia pelos atalhos que conseguem abrir. Um menino moreno - dez anos? - conduz um cachorrinho na ponta de longo barbante. Entra em rua que despenca para o fundo do vale com a moça que o acompanha. Nas casas, a cachorrada, começa a latir com fúria. Sobe o carteiro e O pequeno cão começa a latir para ele. A situação assusta a criança. Do sobrado de tijolo baiano saem fios por frestas e poros. A janela pré-fabricada de alumínio, com grade, fica a dois palmos do emaranhado de fios dos postes a riscar paisagens. No térreo, cartaz de papelão na portas de aço fechadas anuncia: vende-se caldo de mocotó. Passam duas moças. Uma alta, outra baixa. Carnes abundam numa e faltam noutra. No ponto-de-ônibus da calçada estreita de empresa do Estado, esperam sob sol forte. Uma é quase bonita, a outra... A alta, farta e quase bonita se apóia no cotoco de caibro que serve de marco ao ponto. Uma camionete preta pára no meio da rua. Lodo depois da curva. O homem que dirigia sai como se saísse das telas, com chapéu de caubói, bem no meio da rua e ajusta com calma o cinturão. Depois, cutuca os bolsos, acha algo e volta para o carro. Dá o papelzinho ao companheiro, liga o motor e parte. Subúrbio, periferia, sonho da megalomania metropolitana. Recheio de guaritas, cozinhas, lavanderias, padarias, restaurantes, postos, balcões, portarias, estádios, delegacias, presídios e... A polícia é em cima da pizzaria, no outro quarteirão... |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior| |