Crônica do dia |
"Bem, o time adversário é meio forte, então, eu vou explicar o nosso esquema tático: é zero, nove, dois: zero no ataque, nove na zaga e dois no gol. Se a bola passar pro campo adversário, eu não quero ninguém bancando herói, deixa ela lá..." O texto, que a memória de um velho reproduz o mais fiel que pode, alguns minutos depois de o ouvir mais uma vez, abre anúncio de 'botas Sete Léguas'. Ouvi, é óbvio, na Rádio Gaúcha, Rio Grande do Sul. Adorei a imagem, caricatura fiel do futebol que se joga com pés delicados em chuteiras coloridas e a cabeça em milhões, reais ou oníricos, de um esporte contaminado, como tudo, pela fúria do show business, pelo milagre da multiplicação da moeda, pelo derrame de ouro de Midas virtuais, que escorre fácil e volátil através dos bolsos de um senhor chamado Mercado, mais humano que muitíssima gente, com seus humores, agitações, nervosismos e decisões implacáveis. Hoje, é quase impossível ainda gostar de um futebol de times com mais explicações táticas que a 'arte da pelota', mais esquemas táticos que livro de contabilidade: 2-6-2, 3-5-2, 4-4-2, 4-6-1 e muitos mais. Com seleções que chegam às oitavas de final da Copa do Mundo sem derrota, sem tomar gol mas, também, sem brilho, como vimos, neste ano, a Suíça.
Não seria absurdo imaginar que o futebol do futuro, longe do país do futebol, longe do país do futuro, se jogue apenas em computadores. Poderia ser um futebol virtual, como os Amazonas de dinheiro que correm nas Bolsas dos países subdesenvolvidos, promovidos a emergentes - quer dizer, náufragos, que emergiram de um naufrágio malthusiano? - por ali correm os bilhões, por computadores e, todavia, o pregão acabou. O jogador, com suas chuteiras cheias de tecnologia, que abra bem os olhos, assim como os corretores das bolsas, podem descobrir, de repente, que são supérfluos... |
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