desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

Sussurros

12/02/14

Mais uma tarde quente de um verão incomum: seco como só o inverno costuma ser. Todavia, um vento fraco, em sucessivas e variáveis rajadas vindas do noroeste, parece anunciar o fim iminente da seca estival. Consequência da falta de umidade, no ar e no solo, caem precocemente folhas das arvores, florescem antes do tempo muitas plantas e até frutos temporões se apressam nos impulsos de procriação.

Seja por que razões forem, a tarde desta quarta-feira está mais fresca e mais úmida do que os últimos dias. Talvez comecem logo chuvas muito reclamadas para se estenderem até o fim do verão. Se vierem, reforçarão o estribilho que celebrizou as águas de março. A vida se repete, ano após ano, nas voltas da Terra em torno do Sol, mas as oscilações desta repetição eliminam toda possibilidade de monotonia. São verões secos e quentíssimos aqui, secas igualmente incomuns lá e acolá, nevascas abundantes e frio absurdo mais além, tempestades e ressacas e inundações a varrer as mais célebres monarquias - todas condições incomuns, nada monótono o clima pelo mundo.

O vento arrefece. O céu, agora tem muitas nuvens. Uma cigarra, com voz incompatível com seu tamanho, ameaça a cantoria em sucessivos crescendo, mas depois de algumas tentativas cala. Nova rajada: o ar, a mim, parece mais úmido. Ao longe, o som de uma serra elétrica quebra o rumor de folhas agitadas levemente. O som de um avião à jato passa e some rapidamente. Um momento de suspense surge do súbito silêncio. Novo sopro e as folhas voltam a sussurrar. O ruído dos jatos depende de muitas variáveis - direção, altitude etc. - Agora, um outro mais distante custa para calar.

Fevereiro já vai quase em meio e as chuvas, por aqui, são vaga promessa apenas no sussurro da vegetação, mas como é lindo esse cochichar de folhas sedentas!

Wed, 12 Feb 2014 19:59:03 -0200

.. e ó: faz tempo que não me sinto tão sufocado pela
falta de água... e pela absurda sujeira que boia sobre
a cidade onde eu moro... difícil respirar por aqui.
sério...

      sem assinatura

Verdade. Fui ontem fazer exames e constatei com meu nariz e meus olhos o que você descreve. Certa vez, fui fotografar qualquer coisa no interior de São Paulo e ao voltar, num teco-teco, para pousar em Marte, vi com clareza o colchão marrom a boiar sobre a cidade, e lá se vão mais de 40 anos!


Thu, 13 Feb 2014 01:47:15 -0200

Adorei o sussurrar das folhas secas sedentas de água!
Deste lado do mundo as arvores florescendo lindamente e estou amando este verão inesquecível... mesmo sofrendo com o calor, mas a liberdade das noites estreladas e enluaradas compensam tudo! Poucas roupas, muita agua, muitas emoções...
Beijos
MH

Aí elas também devem estar com sede. São Paulo tem flores o ano inteiro, assinalava minha mãe. Somos dois a gostar deste verão. Para um ermitão, as poucas roupas são ainda mais radicais. . . Aproveitemos, pois.


Thu, 13 Feb 2014 14:49:42 -0200

Olá Clode

Já ia enviar um e-mail para você pois estava já sentindo falta de suas crônicas.
Esta está especialmente boa e nos leva a imaginar toda a paisagem e a sentir a aragem, e um "novo sopro e as folhas voltam a sussurrar"...

foto da missivista
"Nuvens de chuva no céu de Vila Olímpia"


É, o céu já tem nuvens, mas a chuva está demorando para cair. Ai, que calor!

(Posso compartilhar esta crônica no Facebook?)

Beijos da Vera

Olá,

Recebo sua mensagem quando começa a chover aqui. Bela imagem do céu sobre a metrópole gigante! Obrigado. Claro que sim, pode compartilhar onde quer que seja, pode copiar e dizer que é sua, pode publicar, não importa onde etc. - ela está online e qualquer pessoa pode fazer tudo isto e muito mais sem sequer avisar, quanto mais perguntar!

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