basta um clique!
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.
|
|
Tempestade anunciada01/10/01Anuncia-se a grande tempestade. Espera-se a grande tempestade. Muitos clamam por ela e muitos a vêem como bênção para as terras poeirentas que se quebram e esfarelam estéreis de capim, de gado, de eletricidade também. As nuvens chegam pesadas e fazem do dia noite, os ventos causam estragos e as trovoadas apavoram os cães. Os sistemas de emergências se põem de prontidão. Os instrumentos cospem dados e monitoram na expectativa da catástrofe anunciada. Chega a chuva. Rolam as águas. Repórteres nas ruas, alguns com seus barquinhos no bolso do colete. Medem-se os rios com todas as réguas. As águas sobem um pouco. Alguns automóveis, caminhões e motocicletas aprendem física pelo processo mais doloroso. A cidade se agita. A expectativa se agiganta. No meio da tarde uma pausa: a chuva cessa, o céu clareia, um sol molhado traz alento e poesia. Noticiários falam de mortos e desabrigados ao sul. A tevê mostra as vítimas que, como sempre, moram em barracos, pelas encostas, junto a leitos de rios etc. São pobres, provavelmente analfabetos. Nos mesmos noticiários políticos justificam as catástrofes: o Município diz que a culpa é estadual e federal, o Estado aponta o Município e a Federação e esta se volta contra os outros dois. Recomenda-se desligar para não vomitar. As vítimas, perplexas, parecem resignadas ou derrotadas. Um homem quer relatar o que perdeu: "a comida, as roupas, tudo que eu tinha..." Os políticos explicam tudo mas, para mim, ninguém explicará como pode haver gente que só se aflige diante da "saúde" de bancos. Como pode existir sempre dinheiro para o socorro de uns e nunca, para ajudar os que já nada têm. |
|
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior| |
|
|