autor [1962] crônica do dia

Tempo de amoras

16/09/08

O jacu impressiona por se comportar como passarinho apesar de, parente próximo das galinhas, ser do mesmo tamanho ou maior que elas, fora o rabo muito mais comprido.

Na manhã garoenta, chamou atenção o modo violento como um ramo fino da amoreira se sacudia. Estiquei o pescoço e lá estava, imenso, a uns dois metros e mal se equilibrando ali, um jacu. De perto, a plumagem do enorme corpo preto revelava um rajado leve, quase imperceptível, pálida evocação do nítido estampado das galinhas-d'angola e, sob o bico forte, o conspícuo triângulo vermelho de pele nua e cor intensa, lembrava a crista e o papo das galinhas.

Logo depois, outro jacu pousou, com estrépito, na ruína de uma árvore, próxima, cujos galhos, cobertos de epífitas se desmontam lentamente.

O primeiro tentou alcançar uma amora madura, mas qualquer movimento seu vergava e e balançava os ramos da amoreira e o assustava.

Corri para outra janela, de onde o veria ainda mais perto, mas ao abri-la, a ave já não estava mais ali. Logo descobri seu vulto entre galhos e folhas da jabuticabeira, longe. Os jacus fazem um grande estrago, enormes e desajeitados, quando naqueles galhos abundam pequeninas jabuticabas verdes, como agora.

Aí chegaram dois sanhaços azulados, atrás das mesmas amoras. Eles são fregueses e, apesar de pequenos e leves, balançam os ramos com seu peso. São hábeis para escolher e colher a fruta mais madura e penam, depois, com a amora enorme para seu bico, e a ausência de mãos para a manusear.

Sabiás são freqüentes também. Maiores, lhes é mais difícil lidar com a flexibilidade e a fragilidade dos ramos longos e curvos. Os sabiás-laranjeira chegam em bandos e se chamam, piam, trinam e floreiam. Os de bico claro são solitários, ariscos e silenciosos.

As folhas intactas atestam a ausência de bicho-da-seda por aqui...

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