Crônica do dia |
A rádio, antes da notícia, a anuncia com título, subtítulo e patrocinador. É isto mesmo: o que se informará tem pouca importância, ou nenhuma, cuidam com zelo e papinhas do anunciante e seus slogans, que precedem a 'notícia' e se repetem ao final. São tempos modernos, é marca, para ficar no linguajar dos marqueteiros, marca do novo século. Embora mencionem ouvinte, dirigem-se, de fato, a consumidores, na infinidade de rótulos que nos aplicam a cobrir toda pele, mesmo nas partes mais íntimas. A imagem não é minha, adaptei-a de um artigo da 'Time', de 22 de maio de 2000 que, trouxe uma coleção de artigos sobre vários temas, assinados, numa tentativa de prever o que nos reservaria o século 21. Em um dos artigos, "Como a propaganda nos alcançará", o autor, que a revista apresenta como 'um dos maiores criadores de anúncios', prevê um ano vinte onde viveremos dentro de anúncios e violados por anúncios de todas a formas. Não esquece que, em troca de uns trocados começaremos a alugar ou vender a superfície de nossa pele, para que cocacolas e generais de motores, teles isso e aquilo, softwares, combustíveis, e energias nela estampem logotipos e slogans. Eu, quase do século 19 - da primeira metade do século passado -, fico perplexo, não com tudo isto, mas com a naturalidade da grande maioria diante de toda a desumanização que vemos neste e em outros sinais dos tempos modernos. Em seu dicionário de uma vida, 'Millôr Definitivo', o humorista anota no tópico 'recíproca': "Cada vez sinto mais dificuldade em aceitar o mundo como ele é. E tenho a vaga impressão que a recíproca é verdadeira." Eu, não saberia me definir melhor face à invasão de privacidade do mundo, ao mercantilismo que permeia tudo, da chamada religião ao bate-papo de esquina e tudo que faz dos tempos modernos "o mundo como ele é". |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|