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Teorias14/01/02Nasce o sol, mas isso é só teoria, informação de almanaque: hoje, aqui, às seis horas e 33 minutos. Agora. Todavia chove e até esta informação é remota, auditiva apenas: gotas grossas caem do beiral sobre folhas largas, plissadas como as saias das colegiais de outrora, cheias pregas regulares e cuidadosamente vincadas. São como tambores. Do rádio: nas últimas 48 horas choveu cinco centímetros no antigo aeroporto, o Campo de Marte. Não é muito, a comparar com outras tempestades de outros verões, mas é um chover interminável. Nas fotos da Terra se vê a dança de nuvens que vão e que voltam em rodopios sobre o país do carnaval, como um ensaio que antecede o show. Suores, lágrimas e cervejas com que o Planeta encherá os penicos para resplender em luz carnavais, páscoas e natais. Eletricidade a computar valores nas bolsas e lavar mãos e corpos em carandirus ou filar, com gatos, fios de luz para barracos e barrancos. Chove. Que será manaque, despido do artigo al, nessa língua paterna que ignoro? Há uma conjunção às dez horas e 51 minutos: o Sol, a Terra e Vênus se alinham. Pura teoria também, nada para se ver. Vênus só é visível quando está distante do Sol e vira estrela: da Manhã, da Tarde, d'Alva ou Estrela Vésper. Para os astrólogos a efeméride é alvissareira. Crêem vantajosa toda conjunctio, símbolo de união, casamento, cópula. E na velha Astrologia o Sol representa o centro, o ego, a individualidade, a personalidade e a própria vida enquanto Vênus simboliza a criatividade, a arte, as manifestações artísticas, as necessidades afetivas, os sentimentos e relacionamentos... Qualquer interpretação será bem-vinda. Acima das nuvens, logo ali, o dia está ensolarado e, na teoria, a luz baixa deve dar a esse mar de algodão reflexos dourados. Aqui, sem asas, sem teorias a chuva fina persiste e o dia segue cinza como segunda-feira. |
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