Há três anos se esboçou aqui uma ficção à guisa de preencher o vazio imenso pela falta de inspiração. É recorrente a situação, mas hoje a menciono apenas pela primeira frase, aliás apenas por seu início, uma bobagem e cisma minha, sempre a atrair-me a atenção e possibilitar-me elucubrações infrutíferas sobre a locomoção animal e, em particular, a humana.

Bípedes, abrimos mão do apoio de quatro patas em prol das mãos e suas maravilhosas e quase infinitas capacidades e possibilidades, se diz, mas sobre os pilares das pernas se ergue nosso ser. Delas dependemos seja para engatinhar ou dançar um pas de deux. Ademais, é notório o gradativo definhar das pernas com o envelhecer, cada vez mais frágeis, pálidas lembranças dos sólidos pilares da juventude.

Caminho por um mundo cada vez mais povoado e sempre existem muitas pernas a caminharem também diante de mim. A marcha da multidão me remete àquela frase, ao seu começo: "ia Andriele pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo em disputa inútil de qual ficaria adiante" e andar é manter viva esta disputa onde cada perna com seu pé procura estar sempre à frente da outra.

No verão e perto da praia, a maioria das pernas estão expostas. Pernas de idosos com marcas dos anos e pernas jovens, muitas com tatuagens, mas todas na mesma disputa absurda de qual sairá vencedora.

Distraio-me a acompanhar o deslocar dos transeuntes pelo "enquadramento" de seus pés e daí a outras modalidades de locomoção animal basta um passo e logo passam a desfilar-me na mente a serpente, o caracol, o miriápode, o guepardo e muitos outros bichos, inclusive do mar.

De quem vem, não consigo me ater aos pés. Por instinto, procuro o olhar, mas é raro os olhos se encontrarem e se examinarem mutuamente. Raríssimos os "ternos olhares cruzados" os tais "corações que se beijam".

Thu, 18 Feb 2016 10:23:14 -0200

poético, hein? Desconheço as citações e o que são miriápodes. Sobre estes, não precisa me mandar dicionário, rs, estou vendo aqui na internet.
Bjs e boas caminhadas. caminhamos enquanto podemos, se pararmos, não mais poderemos ;)

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São aqueles artrópodes que o povo chama "piolho de cobra" com centenas de patas. Também são ditos milípedes. As citações você deveria conhecer, são de um poema de Ruy d'Aurélio!
Grande verdade: se pararmos, não mais podemos!