Twenty ten

07/01/10

Nuvens plúmbeas como pano de fundo, muito escuras, induziam a sensação inevitável do granito gigantesco da infância, sempre presente na paisagem carioca. De tão escuro o cinzento dir-se-iam pretas as nuvens que davam a certeza da tempestade iminente. Fora isto, o fundo escuro destacava a paisagem em luzes manifestas apenas pelo contraste com a sombria rotunda.

imagem da internet
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Logo chegaram fortes rajadas a sacudir a vegetação e pôr em cena inconfundível fundo sonoro. Alguns galhos implicaram com os fios nus de eletricidade e, ao fundo, somaram-se estalos e pequenas explosões. A luz ameaçou se apagar - piscou, tossiu mas, desta vez, continuou a luzir.

Embora distante do outono, a gigantesca paineira, já despida de boa parte de suas folhas inumeráveis, aproveitou para se livrar de muitas mais levadas pelo vento. Grandes trovoadas sacudiam as janelas nos caixilhos. De novo a luz oscilou.

Nos ares, folhas bailavam em malabarismos caprichosos e, além delas, um grande bando de andorinhas, com suas acrobacias em todas a direções. Voavam acima das folhas mas, visualmente, a elas misturavam.

As primeiras gotas demoraram um pouco e chegaram tímidas, a tamborilar de leve a vegetação. O dia caminhava para o pôr-do-sol, invisível, é óbvio, sob nuvens espessas. Na cena escurecida se via, de quando em quando, um relampejar a anunciar a próxima trovoada. O excesso de umidade e o calor evocavam Manaus, onde tudo mofa e é difícil respirar.

Quão frágil é vida! Todos os extremos, qualquer extremo, a pode aniquilar. Calor extremo a cozinha, frio extremo a congela, secura demais ou muita umidade a podem tornar impossível. Frágil, frágil demais... e bonita, tão bela!

Inaugure-se, pois o vinte dez, como dizem os norte-americanos: twenty ten, com os ecos molhados de 2009, o ano das águas, que abusaram de abundar.

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