Há mais de vinte anos, vi, pela primeira vez, os três dáblius juntos. Enormes, brancos, estampados na camiseta preta de um crioulo. Íamos, de pé em um ônibus, para Olinda. Quis, sem sucesso, adivinhar o significado da sigla. Não me ocorreu, é óbvio, World Wide Web. Outro dia, no rádio, ouvi a moça dizer: "quem for às compras na uebi precisa tomar cuidado". Hoje, a 'uebi' virou carne de vaca e se fala da uebi com intimidade. A uebi, a World Wide Web, se tornou íntima de todos, mesmo de quem nunca a associou com rede de computadores... A uebi virou o grande supermercado do mundo, uma espécie de Feira de Caruaru universal. "De tudo que há no mundo / nela tem pra vender", assim como na famosa feira pernambucana, segundo o baião de Onildo Almeida celebrizado por Luiz Gonzaga. Tem pra vender, pra dar, pra tomar. Não fosse assim e a rede uebi não serial fiel a outra realidade, que replica como virtual. Tão misteriosa quando surgiu, a realidade virtual, hoje, parece mais real que a outra, de carne e osso em vez de chips e telas. Mais palpável e sem as mazelas impostas pela carne nem a dureza do osso a roer. Talvez não se compre na uebi "peixeira" e nem "boi zebu, / caneco, alcoviteiro, peneira boa ou mel de uruçu", mas se tornou banal indicar um dábliu, dábliu, dábliu qualquer, como se fosse um nome da rua e número da casa de alguém. A letra, ano que vem volta ao Português, o dábliu ou dáblio ou, até, dabliú, oxítona, como na marchinha de carnaval, todas têm a chancela da Academia. Mistério corriqueiro, aquela sigla no peito do crioulo me desafiou pelo caminho recifense. Lembrei-me, então, do 'who, what, when, where, why', tão caros a jornalistas. Não era. Os três dáblius, em grossas letras brancas na camisa preta, só depois virariam uebi, onde tem "de tudo que há no mundo", como na feira de Caruaru.
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